Arranjos Produtivos Locais: uma alternativa para o desenvolvimento - volume 1
José Eduardo Cassiolato, Marcelo Pessoa de Matos e Helena M. M. Lastres (orgs.)
Este livro traz
contribuição importante para uma compreensão mais
abrangente do desenvolvimento de atividades do setor de serviços no país,
ao ampliar a agenda de pesquisa, em particular, para as chamadas indústrias
criativas. Estimula oportunas e necessárias reflexões conceituais
e analíticas, com significativas implicações para a formulação
de políticas públicas e privadas de apoio e promoção.
As atividades
intensivas em cultura estão dentre as que mais vêm contribuindo
para o crescimento da economia mundial. Contudo, ainda é imenso o desafio
de analisar e mensurar sua importância econômica e inovativa. É
nesta direção que o livro se propõe a avançar, oferecendo
um diferencial ao dar visibilidade à contribuição que turismo
e cultura aportam ao desenvolvimento econômico e social. A invisibilidade
destas atividades, conforme destacado no primeiro capítulo, possui três
dimensões. A primeira, ligada à intangibilidade de grande parte
de seus insumos e produtos. A segunda é relacionada ao elevado grau de
informalidade destas atividades e sua produção. Já a terceira
dimensão resulta da própria falta de tradição teórico-conceitual
e de estudos e análises sobre seu papel.
Os autores do
livro, ao selecionarem casos de atividades turísticas e culturais em
diferentes estados e regiões brasileiras, tornam visíveis seus
contornos e aporte ao desenvolvimento, especialmente à geração
de emprego e renda. Utilizam o enfoque de arranjos e sistemas produtivos locais
cuja relevância se destaca tanto como instrumento analítico quanto
para orientação de políticas. Nos diferentes capítulos,
vemos que as atividades intensivas em cultura mobilizam vastas cadeias de fornecedores
e distribuidores de bens e serviços que envolvem desde grandes corporações
até significativos contingentes de micro e pequenas empresas formais
e informais. A visão ampliada dos arranjos e sistemas produtivos e inovativos
desvenda a multiplicidade de atores e atividades envolvidos. Além das
empresas, abrange organismos de apoio, financiamento, regulação,
coordenação, representação, geração
e transmissão de conhecimentos.
Ao contrário
das atividades produtivas tradicionais, as intensivas em cultura dependem menos
de recursos finitos. Seu crescimento, além de escapar das limitações
tradicionais impostas pelas pressões ao consumo de recursos escassos,
coloca novas alternativas ao desenvolvimento. Isto se torna ainda mais relevante
no caso do Brasil, país de vastas riquezas e diversidade natural, patrimonial
e cultural, fruto de um território de dimensões continentais e
da fusão de múltiplas etnias. Para que estas oportunidades sejam
potencializadas, mostra-se necessária a implementação de
políticas de preservação e valorização destas
riquezas numa perspectiva de longo prazo.
Para além
da apreciação de recursos naturais e culturais locais, regionais
e brasileiros, destaque deve ser feito ao inestimável papel que tais
atividades têm ao reforço da identidade e da inovatividade. Os
autores deste livro seguem a tradição de outros, como Celso Furtado,
ao destacarem a estreita relação entre cultura, criatividade,
poder e desenvolvimento. Ao definir criatividade como a capacidade inventiva
da sociedade para combinar e desenvolver as forças produtivas sob um
contexto cultural, Furtado alertava para o risco da desconexão entre
inovação e cultura. Por um lado, indagava como preservar o gênio
inventivo de nossa cultura em face da necessidade de assimilar técnicas
que, se aumentam a capacidade de ação, também podem ser
vetores de ressecamento de nossas raízes culturais. Mas, por outro lado,
teve o cuidado de considerar os impactos positivos desta evolução
sobre um potencial cultural que possui a capacidade de se renovar e recriar.
Em linha semelhante, aliás, com os modernistas capitaneados por Mário
e Oswald de Andrade, os quais viam a assimilação de várias
contribuições, com a subseqüente transformação
destas em algo próprio, tanto como característica da cultura brasileira
quanto como uma de suas virtudes.
Reconhecendo a relevância de tais atividades, também o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social se colocou o desafio de apoiar empreendimentos culturais, o que levou à criação de um departamento voltado à cultura, entretenimento e turismo. O BNDES é atualmente um dos maiores patrocinadores no país de projetos culturais nas áreas de patrimônio histórico e arqueológico, acervos, cinema e música. Este esforço tem confirmado a contribuição dessas áreas ao desenvolvimento tanto em suas dimensões econômica e social, quanto simbólica. Uma de nossas apostas é na oportunidade de investir em arranjos produtivos locais intensivos em cultura visando descortinar novas alternativas de desenvolvimento inclusivo, criativo e coeso, além de sustentável.
Rio de Janeiro, outubro de 2008
Luciano
Coutinho
Presidente do BNDES