Desafios Sistêmicos
Lições aprendidas por consultores e executivos que vivenciaram a implementação de sistemas
Até o
final de 1995 fui consultor no Centro de Estudos Executivos da IBM Brasil onde
pude constatar a insatisfação com o mau funcionamento dos sistemas
demonstrada por executivos, especialistas e usuários. Naquela época,
podia-se observar que aplicativos computacionais, unidades administrativas, processos
organizacionais e técnicas de soluções de problemas, muitas
vezes, recebiam indiscriminadamente a denominação genérica
de sistema. Lembro-me de uma ocasião em que, ao constatar num
ensaio de três páginas o termo sistema repetido mais de 20 vezes,
com umas poucas trocas, consegui eliminar totalmente o termo do ensaio. Aquele
ensaio continha queixas relativas a tudo que era baseado em software e
tecnologia digital; reclamações dos sistemas organizacionais de
qualquer natureza; questionamentos sobre a validade dos projetos; insatisfações
com os processos de implementação, etc.:
Mais
tarde, como consultor independente, eu continuei a observar reclamações
desse tipo por muito tempo, notando que elas apenas mudavam de endereço
e escopo. Em outras palavras, usuários de diferentes níveis hierárquicos
continuavam insatisfeitos com as falhas de todos os sistemas que dependiam de
interação humana. O pior é que essa insatisfação
tende a continuar por muito tempo, pois as metodologias de desenvolvimento de
sistemas e de gerência de projetos ainda não contemplam uma forma
de harmonizar conflitos que ocorrem entre executivos, especialistas
e operadores, agentes integrantes das três microculturas básicas
do ambiente organizacional.
Contudo
não se pode negar que a evolução da tecnologia das comunicações
e da informação, ao mesmo tempo em que possibilita maior harmonia
entre os agentes, um melhor atendimento das necessidades de integração
e diferenciação das empresas, provoca mudanças impressionantes
que exigem reestruturações completas nas organizações
sujeitas ao desafio das complexidades crescentes dos seus sistemas.
Dentre
as mudanças destaca-se a ampliação do espectro de conectividade,
o aumento da velocidade de tratar os dados para extrair informação
e a criação de conhecimento para aumentar o valor do capital intelectual.
Há indícios de que a melhoria da conectividade esteja reduzindo
a insatisfação dos usuários com relação aos
sistemas que dependem de comunicação inter-organizacional. Acredita-se
também que a velocidade no tratamento dos dados esteja possibilitando a
criação de organizações mais responsivas e competitivas.
Nesse contexto foram criados sistemas para facilitar o desenvolvimento de práticas
de gestão do ambiente de conhecimento e aprimorar o capital intelectual
das organizações. Somam-se a isso os sistemas de inteligência
de negócios que, possibilitando a extração de informação
útil literalmente minerando na gigantesca massa de dados criados
pelos sistemas transacionais, orientam decisões estratégicas de
negócios, proporcionado vantagens competitivas antes impensáveis.
Surgem então as questões: o que se aprendeu com as experiências
adquiridas ao se contornar as insatisfações do passado? O que se
está aprendendo com as facilidades oferecidas pela tecnologia da atualidade?
O que se aprenderá com o cruzamento das lições do passado
com as oportunidades atuais?
Neste livro, eu pretendo tratar especificamente de alguns pontos para reflexão com relação aos desafios enfrentados por aqueles especialistas, usuários e executivos que se engajam em projetos de construção de Sistemas para solucionar problemas ou aproveitar oportunidade de negócios. Dessa reflexão algumas lições serão extraídas e, a partir delas, algumas recomendações poderão ser elaboradas.
Sérgio Lins