Introdução à História da Comunicação
Pablo Laignier e Rafael Fortes (organizadores)
Escrever sobre
comunicação não é uma atividade simples, por diversos
motivos: em primeiro lugar, este campo do saber é bastante recente do ponto
de vista histórico. A noção de comunicação
recebeu grande atenção acadêmica a partir do século
XIX, mas foi somente durante o século XX que se colocou a Comunicação
Social como um campo de estudos próprio (Mattelart; Mattelart, 2001). Ainda
assim, até hoje um estudante de jornalismo ou publicidade que queira adquirir
seu diploma universitário terá de se deparar, primeiramente, com
paradigmas e correntes de pensamento oriundos de outros campos epistemológicos,
tais como: Sociologia, Antropologia, História, Filosofia.
Em
segundo lugar, a dificuldade em situar com precisão o objeto de estudo
de um campo cuja transdisciplinaridade vem sendo uma das características
principais faz com que se discuta, constantemente, a definição do
termo comunicação. Segundo Martino (2001, p.23), comunicar
é simular a consciência de outrem, tornar comum (participar) um mesmo
objeto mental (sensação, pensamento, desejo, afeto).
A
troca de mensagens ou até mesmo a troca de mercadorias entre duas ou mais
pessoas são exemplos de comunicação, se tomarmos o termo
em sentido mais amplo. Segundo Sodré (1996, p.11), "diz-se comunicação
quando se quer fazer referência à ação de pôr
em comum tudo aquilo que, social, política ou existencialmente, não
deve permanecer isolado. Isso significa que o afastamento originário criado
pela diferença entre os indivíduos, pela alteridade, atenua-se graças
a um laço formado por recursos simbólicos de atração,
mediação ou vinculação".
Há
um sentido mais estrito de comunicação que parece predominar
no mundo atual: o de que o termo refere-se, sobretudo, à transmissão
de mensagens midiáticas através de um canal. Mas este não
é o único sentido possível, principalmente em se tratando
de uma abordagem histórica dos processos comunicacionais.
Deste
modo, discutir a história da comunicação, ainda que de forma
breve, como este livro pretende, significa apresentar também as características
dos primórdios da comunicação humana, em um tempo que se
estendeu por milênios e que é fundamental para o entendimento da
comunicação, pois esta não foi iniciada com o advento da
prensa de Gutenberg ou da relação mediada por canais informativos
em sistemas elétricos.
Os
nove capítulos que se seguem abordam diferentes aspectos e períodos
da história da comunicação. A variedade se dá não
apenas em função dos temas e períodos, mas também
dos estilos e propósitos dos autores. Consideramos esta diversidade positiva.
Cabe ressaltar, ainda, que os capítulos se apresentam em ordem cronológica,
mas podem ser lidos separadamente.
Por
fim, ressaltamos que é importante compreender o potencial de inovação
de cada meio, mas também seus usos e apropriações sociais.
Os meios de comunicação, em si, não são bons ou maus.
O que importa é quem os usa, e com que propósitos. Meios surgidos
como formas de controlar e manter o estado vigente das forças sociais podem
ser tomados como ferramentas revolucionárias pelos setores oprimidos. As
mídias não são, por si mesmas, conservadoras ou progressistas.
Progressistas ou conservadores podem ser os seus usos, a sua propriedade, os interesses
a que servem. Como argumenta o escritor português José Saramago,
a informação só nos torna mais sábios se ela
nos aproxima das pessoas (Saramago, 2007).
Os organizadores