A violência contra a mulher no mercado de trabalho
Estamos vivendo
uma época de convenções e não de valores, onde não
há mais questionamentos com relação às atitudes levianas
de gestores, sejam dos setores públicos ou privados. Qual a qualidade dos
futuros gestores, e que tipo de gestores estão sendo formados em nossas
faculdades, futuros formadores de opinião, publicitários, relações
públicas, jornalistas, administradores, economistas... Estamos preparando
realmente estes futuros gestores? Qual bagagem acadêmica é transmitida
para eles? Quais valores? Falamos em ética em sala de aula? Eles sabem
o que é ética na prática? Ou melhor, agimos eticamente com
esses alunos e a sociedade? Ou estamos apenas gerando novos adeptos do discurso
retórico e da oratória, que utilizam suas ferramentas para persuadir,
obter sucesso, poder, onde o negócio é a medida de todas as
coisas? Quem é o futuro gestor, e o que podemos fazer/ferramentas
utilizar? E quanto aos seus semelhantes? Como nos comportamos? Quem somos?
Como percebemos o outro?
Antes
de Sócrates, Platão e depois Aristóteles não havia
uma reflexão organizada sobre a ética e o homem moral,
a não ser o relativismo dos sofistas, que viam a Ética como convenção
social. Os sofistas eram adeptos do pragmatismo da atividade política,
e tinham o discurso retórico e a oratória como suas ferramentas
para persuadir, obtendo consenso em assembléias onde se tomavam decisões
políticas da cidade. Eram educadores profissionais, homens de poder que
sabiam persuadir, comover, manipular com maestria através da linguagem,
seja a linguística ou a oratória com louvor, com aprovação
da sociedade e normas vigentes da época. Estamos vivenciando este período
mais uma vez, ou será um déjà vu? Ou seja, a impressão
de experimentar algo que, aparentemente, já foi experimentado!
Sócrates
ao mesmo tempo em que se contrapõe aos sofistas, por negarem uma
realidade objetiva e universal aos valores éticos, se contrapõe
aos tradicionalistas, por não serem capazes de compreender a essência
destes valores. Sócrates pensa na Ética não como uma
especulação abstrata, mas como uma força transformadora,
capaz de trazer a felicidade à Sociedade e ao Indivíduo.
O
maior problema ético é uma questão de definição
de termos. Porém, a visão de Sócrates basta saber o
que é bondade para que se seja bom, que atualmente pode nos parecer
ingênua, pois para o indivíduo moderno somente
através da coerção é possível evitar que se
seja mau, em sua simplicidade e pureza, é de grande eficiência. Talvez,
paradoxalmente, essa seja sua magia e complexidade.
Ironicamente,
a filosofia grega atingiu o seu ápice teórico durante a sua decadência
material, notem, mais um déjà vu. O processo iniciou-se com os conflitos
da emergente classe de comerciantes enriquecidos contra as velhas aristocracias,
cuja base do poder era a tradição e a propriedade fundiária,
e terminou com a ascensão dos tiranos, magnatas que se denominaram defensores
das camadas mais pobres da população. O crescimento das desigualdades
sociais gerou crescentes conflitos, estimulou a dominação da política
pelos demagogos, e com a necessidade de justificar o Imperialismo foram rompidas
as velhas noções de Império da lei e igualdade dos homens,
ocorrendo a superação da riqueza intelectual pela material. E é
nesse contexto de decadência e crise moral que não só Sócrates
mas também Platão e Aristóteles devem ser analisados. Pois
quando se passa a ter estas informações, percebe-se a questão
da ética não como o surgimento de uma nova ordem, mas a necessidade
de se refletir, sistematizar e defender conceitos que antes eram vistos como automáticos
o bem comum e a felicidade individual. Mas sem querer chover no molhado
e falar o óbvio: a Grécia antiga, em que se discutiam retórica,
política e sociedade, continua atual.
Como hipótese deste livro, proponho que o mercado não possui valores morais, tão pouco se importa de fato com a ética, e que, mais do que nunca, a retórica tem sido utilizada como principal ferramenta de negócios. As empresas, sejam públicas ou privadas, ou organizações, são geridas por indivíduos e são estes que direcionam e dão o ritmo a ela. O vencedor é aquele que melhor souber persuadir, comover e manipular. Proponho ainda que parte desta falência está na formação acadêmica dos gestores, uma formação pobre em valores políticos e éticos, que se assemelha ao contexto de decadência e crise moral da Atenas de Sócrates, Platão e Aristóteles. Apresento, ainda, de forma direta, os conceitos de violência, gênero, diversidade, tolerância, correlacionando-os e afunilando os temas até focar na questão de gênero/assédio moral e sexual, e como isto se reflete de forma diferenciada na mulher com relação ao homem, e a realidade atual no mercado nacional. Tendo como análise de caso/estudo um nicho de mercado que sempre foi considerado como um gueto masculino: as instituições financeiras, considerando os altos escalões, membros do Conselho de Administração e principais executivos, e o percentual de homens e mulheres em cada instituição/grupo.