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A violência contra a mulher no mercado de trabalho

Márcia Neves

Estamos vivendo uma época de convenções e não de valores, onde não há mais questionamentos com relação às atitudes levianas de gestores, sejam dos setores públicos ou privados. Qual a qualidade dos futuros gestores, e que tipo de gestores estão sendo formados em nossas faculdades, futuros formadores de opinião, publicitários, relações públicas, jornalistas, administradores, economistas... Estamos preparando realmente estes futuros gestores? Qual bagagem acadêmica é transmitida para eles? Quais valores? Falamos em ética em sala de aula? Eles sabem o que é ética na prática? Ou melhor, agimos eticamente com esses alunos e a sociedade? Ou estamos apenas gerando novos adeptos do discurso retórico e da oratória, que utilizam suas ferramentas para persuadir, obter sucesso, poder, onde “o negócio é a medida de todas as coisas”? Quem é o futuro gestor, e o que “podemos fazer/ferramentas utilizar”? E quanto aos seus semelhantes? Como nos comportamos? Quem somos? Como percebemos o outro?

Antes de Sócrates, Platão e depois Aristóteles não havia uma reflexão organizada sobre a ética e o “homem moral”, a não ser o relativismo dos sofistas, que viam a Ética como “convenção social”. Os sofistas eram adeptos do pragmatismo da atividade política, e tinham o discurso retórico e a oratória como suas ferramentas para persuadir, obtendo consenso em assembléias onde se tomavam decisões políticas da cidade. Eram educadores profissionais, homens de poder que sabiam persuadir, comover, manipular com maestria através da linguagem, seja a linguística ou a oratória com louvor, com aprovação da sociedade e normas vigentes da época. Estamos vivenciando este período mais uma vez, ou será um déjà vu? Ou seja, a impressão de experimentar algo que, aparentemente, já foi experimentado!

Sócrates ao mesmo tempo em que se contrapõe aos sofistas, por “negarem uma realidade objetiva e universal aos valores éticos”, se contrapõe aos tradicionalistas, por “não serem capazes de compreender a essência destes valores”. Sócrates pensa na Ética não como uma especulação abstrata, mas como uma força transformadora, capaz de trazer a felicidade à Sociedade e ao Indivíduo.

O maior problema ético é uma questão de definição de termos. Porém, a visão de Sócrates “basta saber o que é bondade para que se seja bom”, que atualmente pode nos parecer “ingênua”, pois para o “indivíduo moderno” somente através da coerção é possível evitar que se seja mau, em sua simplicidade e pureza, é de grande eficiência. Talvez, paradoxalmente, essa seja sua magia e complexidade.

Ironicamente, a filosofia grega atingiu o seu ápice teórico durante a sua decadência material, notem, mais um déjà vu. O processo iniciou-se com os conflitos da emergente classe de comerciantes enriquecidos contra as velhas aristocracias, cuja base do poder era a tradição e a propriedade fundiária, e terminou com a ascensão dos tiranos, magnatas que se denominaram defensores das camadas mais pobres da população. O crescimento das desigualdades sociais gerou crescentes conflitos, estimulou a dominação da política pelos demagogos, e com a necessidade de justificar o Imperialismo foram rompidas as velhas noções de Império da lei e igualdade dos homens, ocorrendo a superação da riqueza intelectual pela material. E é nesse contexto de decadência e crise moral que não só Sócrates mas também Platão e Aristóteles devem ser analisados. Pois quando se passa a ter estas informações, percebe-se a questão da ética não como o surgimento de uma nova ordem, mas a necessidade de se refletir, sistematizar e defender conceitos que antes eram vistos como automáticos – o bem comum e a felicidade individual. Mas sem querer chover no molhado e falar o óbvio: a Grécia antiga, em que se discutiam retórica, política e sociedade, continua atual.

Como hipótese deste livro, proponho que o mercado não possui valores morais, tão pouco se importa de fato com a ética, e que, mais do que nunca, a retórica tem sido utilizada como principal ferramenta de negócios. As empresas, sejam públicas ou privadas, ou organizações, são geridas por indivíduos e são estes que direcionam e dão o ritmo a ela. O vencedor é aquele que melhor souber persuadir, comover e manipular. Proponho ainda que parte desta falência está na formação acadêmica dos gestores, uma formação pobre em valores políticos e éticos, que se assemelha ao contexto de decadência e crise moral da Atenas de Sócrates, Platão e Aristóteles. Apresento, ainda, de forma direta, os conceitos de violência, gênero, diversidade, tolerância, correlacionando-os e afunilando os temas até focar na questão de gênero/assédio moral e sexual, e como isto se reflete de forma diferenciada na mulher com relação ao homem, e a realidade atual no mercado nacional. Tendo como análise de caso/estudo um nicho de mercado que sempre foi considerado como um gueto masculino: as instituições financeiras, considerando os altos escalões, membros do Conselho de Administração e principais executivos, e o percentual de homens e mulheres em cada instituição/grupo.

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