Defesa Química
Angelo C. Pinto, Antônio L. S. Lima, Tanos C. C. Franca (org.)
Na última década, o Brasil consolidou sua posição de líder regional, integrando o grupo de países emergentes e se firmando como uma economia estável e expressiva dentro do cenário internacional. Fruto dessas credenciais, sua candidatura para sediar grandes eventos logrou êxito, trazendo para o nosso território, dentre outros, os dois maiores eventos esportivos mundiais a serem realizados num curto espaço de tempo. Nessa conjuntura, considerando o grande afluxo de turistas e as exigências das entidades responsáveis por esses grandes eventos, alguns temas, antes relegados a segundo plano, ganharam prioridade e passaram a ocupar espaço no planejamento das ações a serem empreendidas em todos os níveis. Uma das áreas que ganhou grande visibilidade foi a Defesa, não só pelas dificuldades já existentes na segurança pública, mas principalmente pelas novas, que eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas impõem aos seus organizadores, tanto para participantes quanto para o público assistente. Assim, apesar das ações antiterroristas não serem uma preocupação prioritária na rotina da segurança interna, com os grandes eventos essa possibilidade ganhou importância, impondo planejamento de ações preventivas e de reação necessárias para garantir a realização dos eventos internacionais de forma tranquila e dentro de seus objetivos.
Nesse novo cenário, temas como proteção contra ameaça química, biológica, radiológica e nuclear (QBRN) passaram a estar cada vez mais presentes na agenda do governo. Ciente da necessidade de criar condições para que a estrutura do Estado possa prevenir e responder à altura um eventual atentado terrorista envolvendo agentes QBRN, o Exército Brasileiro concebeu, dentro do projeto PROTEGER, a reestruturação do sistema de defesa QBRN do País. Para atingir seus objetivos, o PROTEGER prevê ações para adequação e modernização dos meios, bem como para a qualificação de recursos humanos aptos a atuar tanto em atividades operacionais quanto de suporte técnico. Em paralelo ao projeto PROTEGER, o Ministério da Defesa, em associação com a CAPES, lançou o edital PRODEFESA, que já se encontra em sua terceira edição, contemplando vários projetos de instituições de ensino e pesquisa do País e contribuindo para estreitar laços entre os meios acadêmico e militar através de projetos envolvendo instituições de ambos os segmentos. Tais iniciativas garantiram o investimento necessário para alavancar a aquisição e o desenvolvimento de tecnologias voltadas para a Defesa Química no Brasil, cujos primeiros frutos já estão sendo colhidos. Motivada pelas atividades de ensino e pesquisa ligadas ao PROTEGER e ao PRODEFESA, surgiu a iniciativa de lançar, em 2014, um número especial da RVq dedicado exclusivamente à Defesa Química, que agora é publicado na forma de e-Book com a adição de mais dois capítulos. O primeiro fala sobre o ensino da defesa química no Brasil; o outro (o único que não é de autoria de pesquisadores brasileiros) é uma revisão sobre as toxinas biológicas. A intenção é chamar atenção da comunidade acadêmica nacional para o tema, no contexto mundial atual, com uma publicação de qualidade que apresente o estado da arte das atividades de ensino e pesquisa em desenvolvimento no Brasil. Foram reunidos artigos com as mais diversas abordagens dentro do contexto Defesa Química. Os três primeiros são mais informativos e abordam questões mais técnicas/conceituais, como o ensino de defesa química no Brasil, a implementação da Convenção para Proibição de Armas Químicas (CPAQ) no País e as definições dos limites de exposição a agentes químicos que garantem a segurança num ambiente contaminado. Os demais artigos que compõem esta edição são mais voltados para a pesquisa em Defesa Química e tratam de temas como a fluidodinâmica computacional (CFD) aplicada na dispersão de nuvens de agentes tóxicos em locais públicos, o desenvolvimento de antídotos contra agentes neurotóxicos letais, o tratamento de queimaduras químicas provocadas por agentes vesicantes, o uso de irradiação gama para neutralizar toxinas, o perigo do uso da ricina como agente de guerra química e o desenvolvimento de superfícies catalíticas para a degradação de agentes neurotóxicos. Este e-Book reflete o nível de maturidade que o Brasil atingiu em relação ao tema Defesa Química. Certamente ainda há muito caminho a ser trilhado, mas o conteúdo desta publicação é a prova de que o País já possui massa crítica devidamente capacitada para atuar em todas as atividades a ela ligadas. Que esta publicação atinja seus objetivos de divulgação e motivação para um tema extremante sensível e complexo como é a Defesa Química.
General de Divisão Rodrigo Balloussier Ratton
Vice-chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército