Do Desenvolvimento Global aos Sítios Locais
Uma crítica metodológica à Globalização
Henry Panhuys (tradução de Michel Thiollent)
Como indicam as atuais tensões internacionais, as culturas locais, as crenças e outras maneiras de ver o mundo tendem a contestar o pensamento único e seu modelo de desenvolvimento econômico imposto em nome da globalização. O quadro de análise e de interpretação proposto no livro enfatiza a multiplicidade dos universos e dos sítios simbólicos de pertencimento e nos faz descobrir os mecanismos de extensão e de declínio das civilizações. A atual globalização não é a única forma de mundialização possível, não é a primeira nem a última. A modernidade que a globalização promove abrange uma minoria e exclui a maioria da humanidade. Precisamos de um olhar múltiplo, com recuo, experiências vividas, trocas intelectuais, ação e reflexão para pôr em evidência a diversidade das culturas, das economias, das políticas e das sociedades. Por sua vez, a cultura do capital, cujo motor é a mercantilização, contradiz o princípio de diversidade. Assim, estamos diante do desafio: ao caráter uniforme do desenvolvimento global, opõe-se uma mundialização plural, com o mosaico dos sítios locais. A pluralidade em questão modifica de modo permanente a globalização neoliberal imposta como modelo único. A volta à dimensão local restitui trajetórias e histórias singulares dos povos, grupos e indivíduos, logo, toda a complexidade dos processos de mudança. Nesse sentido, vislumbra-se o fim da cultura de domínio e, em conseqüência, da ocidentalização do mundo, da qual ela é um dos mitos fundadores. Contestado em seus fundamentos, o Ocidente não sabe mais como manter sua dominação e sua legitimidade diante da humanidade inteira. Tal desestabilização significa, de um lado, o fim de uma concepção dividida do homem, da natureza e do mundo e, por outro lado, a emergência, ainda tateante, de uma civilização da diversidade e da fraternidade.
Henry Panhuys