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Psicanálise e pesquisas

Ciência? Arte? Contraciência?

Rogério Lustosa Bastos

Se, parafraseando Gorki (1972), só se produz conhecimento quando se contribui realmente para que se quebrem as algemas humanas; se a ciência é um dispositivo criado para nos ajudar a combater toda e qualquer opressão, este livro pretende discutir a produção do conhecimento científico pela psicanálise. Além de ser debatida por um conjunto de autores que ousam pensá-la, de forma crítica e despreconceituosa, junto às pesquisas (Mezan, Herrmann, Birman, Garcia-Roza), tal disciplina será principalmente discutida, aqui, como a que a partir da Viena de Freud, na maior parte das vezes, traz contribuições para que se quebrem as algemas tanto da singularidade quanto da cultura do homem.

Obviamente que não se trata de uma tarefa fácil pensar a produção dessa disciplina junto aos parâmetros científicos. Mas, caso raciocinemos pela produção desse conhecimento, menos na redução aos meros métodos assépticos e mais na questão de se problematizar o objeto científico pela indeterminação, pela criação de possíveis singularidades através de diferentes modos de subjetividade, notadamente em face de possíveis rupturas no mundo globalizado; caso estejamos disponíveis para trocar experiências com pesquisadores, os quais, há anos, desenvolvem pesquisas nessa área e transcendem a produção do conhecimento apenas pelos parâmetros da física e da biologia clássica, enfim, este é um livro que poderá contribuir com o debate em questão.

Dentro de tal espírito, a obra será desenvolvida em quatro capítulos. No primeiro, observaremos os tipos básicos de pesquisa em psicanálise, ou seja, veremos alguns dos principais autores da psicanálise brasileira – situados no eixo São Paulo–Rio de Janeiro –, debatendo os diferentes modos de se produzir a pesquisa na área. Assim, se, de um lado, veremos Garcia-Roza defendendo o ponto de vista de que essa pesquisa traz a necessidade de ser desenvolvida pelo viés teórico, fato que é vital para tal objeto, de outro, observaremos Birman ressaltando que, ao contrário, o que é vital para esse objeto é que a pesquisa em psicanálise seja desenvolvida a partir de material da clínica transferencial. Se, de uma parte, constataremos a posição de Mezan, que defende que essa discussão relaciona-se com um objeto complexo que não se reduz apenas a um só parâmetro, daí sua defesa em prol da pesquisa em psicanálise por uma perspectiva histórica e crítica, de outra, veremos Herrmann debatendo esse objeto por um viés estético e analítico, por meio da pesquisa psicanalítica pela teoria dos campos.

No segundo capítulo, o livro tratará dos principais métodos e técnicas de pesquisa no campo psicanalítico. Nesse sentido, observaremos não só uma discussão desses métodos, como também das técnicas disponíveis para que se desenvolvam pesquisas em psicanálise, sejam elas do tipo teórico, sejam de material restrito à clínica, de investigações do tipo histórico e crítico ou de pesquisas psicanalíticas pelo viés estético, para citar alguns exemplos.

No terceiro capítulo, contaremos com uma discussão em que se destaca a elaboração de um projeto de pesquisa em psicanálise. É desnecessário dizer que tal capítulo será de vital importância para ajudar na sistematização do objeto psicanalítico por meio de projetos de monografia, de dissertação de mestrado, bem como de doutorado, e do campo da investigação em geral na disciplina em discussão.

Por último, no quarto capítulo, contando com a participação de Popper, Bachelard e Foucault, veremos o debate epistemológico em torno da pesquisa em psicanálise. Nesse particular, será ressaltado não só o aspecto fisicalista e hermenêutico dessa disciplina, bem como seu lado de contraciência. Tal termo será empregado, aqui, menos no sentido de ser anticiência e mais no de uma ciência à margem, a qual, entre outros fatores importantes, poderá contribuir principalmente como um espaço de enunciação, criando signos singulares.

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