Trajetórias docentes
Professores de História narram suas histórias na profissão
Everardo Paiva de Andrade e Marcos Pinheiro Barreto (orgs.)
Este livro resulta de uma experiência docente original em muitos sentidos. Em 2016, a Universidade Federal Fluminense recebeu a segunda turma do PROFHISTÓRIA, o Mestrado Profissional em Ensino de História em rede nacional, iniciado em 2014. Com o objetivo de refletir sobre os múltiplos processos de ensino e aprendizagem desta disciplina e criar caminhos coletivos para ampliar o diálogo e as trocas entre as práticas de nossos docentes, o curso tem como público os professores em exercício nas redes pública e privada de várias partes do país. Desde 2014, o PROFHISTÓRIA expandiu-se e apresenta um perfil notável, contando atualmente com cerca de 850 discentes matriculados em 27 instituições de ensino superior vinculadas ao Programa em âmbito nacional.
Do nacional ao local, o leitor poderá conhecer um pouco mais sobre a experiência de alguns de nossos mestrandos/professores ao acompanhar a leitura de seus memoriais, reunidos neste livro a partir da proposta pioneira da disciplina História do Ensino de História, ocorrida na UFF em 2016. Ministrada por Everardo Paiva de Andrade e Marcos Pinheiro Barreto, ambos da Faculdade de Educação da UFF, a disciplina propôs um convite irrecusável à turma: elaborar, em texto, os caminhos que os conduziram a escolher a docência como prática profissional. Entre memória, emoção, compromisso e desejo de compartilhar vivências, o processo de construção dos memoriais tornou-se o coração daquele curso. Ali desenharam-se a potência destes textos escritos em primeira pessoa e a reflexividade sobre a prática, articulada em um contexto tão rico e particular como tem sido este das salas de aula do PROFHISTÓRIA .
A realização dos memoriais talvez possa evocar algumas das importantes perguntas propostas por Maurice Tardif e Danielle Raymond. Investigando o contexto da formação profissional de professores nos Estados Unidos e no Canadá, esses autores mobilizaram uma base empírica de pesquisa que contou com mais de uma centena de entrevistas, ao lado de relatos autobiográficos de docentes em formação e histórias de vida de professores experientes. Pretendiam compreender, por meio da análise deste rico material, algumas questões centrais: Como se forma o saber profissional dos professores? Em que contextos e tempos de sua vida essa formação é mais intensa? Considerando que o saber ensinar é parte de uma história pessoal e social, destacaram pelo menos dois momentos- chave da formação do professor: a socialização escolar, base de certas concepções de ensino e aprendizagem herdadas e por vezes referenciais na orientação de futuras práticas pedagógicas; e os primeiros anos da atividade docente, não raramente marcados pelo “choque com a realidade”, a formação de rotinas e certezas profissionais, além de uma fase crítica em relação à formação universitária anterior.
Creio que a construção dos memoriais que o leitor tem agora em mãos possa acrescentar uma nova perspectiva para a consideração destes momentos-chave da formação. Ao reunir professores com trajetórias distintas, o PROFHISTÓRIA vem possibilitando espaços de troca e reflexão, não raro profundas, sobre o fazer-se e sobre ser docente. Profunda, talvez, porque marcada pelo intenso compartilhamento do encontro em sala de aula, pelo retorno à Universidade e pelo desafio da elaboração e realização de projetos de pesquisa originais vinculados aos contextos escolares nos quais atuam. Tenho escutado nos corredores do curso, certamente de maneira bem impressionista, que o tempo dedicado a voltar a ser estudante, mantendo-se professor, é marcado por grande intensidade. Pois assim, tempo e narrativa, ferramentas centrais para os professores de História na docência e na vida, foram aqui conjugados e transformados em belíssimos memoriais.
Everardo Paiva de Andrade e Marcos Pinheiro Barreto, pesquisadores da área de Ensino de História, nos têm convidado a considerar as relações entre a aula de História na escola e os saberes de referência acadêmicos. Ao fazê-lo, já sugeriram algumas questões evidenciadas nos memoriais aqui reunidos: “acaso seria demais arriscar a hipótese de que a história que ensinam os professores de algum modo se produz ali mesmo, ao ensinar?”. Certamente sim, sobretudo se consideramos que as situações de ensino se produzem pelo entrelaçamento de inúmeros saberes acadêmicos, escolares e experienciais. Saberes atravessados, todos, pelas expectativas, necessidades e vivências que marcam as trajetórias de vida dos docentes.
Esta publicação, que conta com o valioso apoio da CAPES, é então um presente aos leitores que desejam conhecer e inspirar-se pelos processos de tornar-se professor de História. Boa leitura!
Trajetórias docentes1
Professores de História narram suas histórias na profissão
1 Trajetórias Docentes é o nome dado ao projeto que integra o acervo digital do LABHOI – Laboratório de História Oral e Imagem (Instituto de História da UFF), reunindo narrativas de professores (PROFHISTÓRIA ) e licenciandos (PIBID). A organização do acervo, sob responsabilidade dos professores Juniele Rabêlo de Almeida e Everardo Paiva de Andrade, é uma parceria entre o LABHOI e o LEH – Laboratório de Ensino de História (FEUFF).