O terrorista
Luiz Alberto Machado Fortunato
Trinta anos se
passaram desde o Caso Riocentro. Neste espaço de tempo, a
globalização rompeu as fronteiras e a tecnologia acabou
com a distância. O mundo, seguramente, não é o
mesmo. Apesar disso, muitos brasileiros, com idade e memória
suficiente, se recordam e ainda carregam impressões e
sentimentos a respeito.
Explicações oficiais, versões,
suposições, tudo leva a crer que nunca se saberá
exatamente o que aconteceu naquele estacionamento.
Os desdobramentos do fato são conhecidos. O caso funcionou como
a verdadeira pá de cal na ditadura militar, deixando claro que
nenhum brasileiro, incluindo os comandantes militares, estava mais
disposto a tolerar um ato de violência e terrorismo como aquele.
E nós ficamos assim, com nossas conclusões, pensando
eternamente no que teria acontecido se aquelas bombas explodissem.
Aliviados por poder ainda se orgulhar em ser um país cordial,
onde jamais ocorreu um atentado terrorista violento, com um grande
número de vítimas fatais.
Fortunato consegue, através deste roteiro
cinematográfico, mais que relembrar fatos e apresentá-los
às novas gerações, mostrar um possível
avesso do caso, um outro lado do balcão.
Ao conhecer Sady e acompanhar sua trajetória de vida, podemos
ter, através da sua ótica, uma explicação
lógica para algo inexplicável – o menino que
cresceu aprendendo a odiar os comunistas vira o ativista que não
sabe parar de odiar.
Ler este livro e observar outros ângulos do fato, em um
saudável distanciamento, é poder refletir sobre este
momento de radicalização e dizer, como Clarice Lispector,
“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você
não conhece, como eu mergulhei. Não se preocupe em
entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.