Revista Inteligência Empresarial - n.15
Centro de Referência em Inteligência Empresarial da Coppe/UFRJ
Em artigo publicado, ainda em 1995, um dos pioneiros da Gestão do Conhecimento, o inglês David J. Skyrme, já alertava para a importância das pessoas e das informações como recursos fundamentais para a criação de valor nas organizações. E apontava as redes de conhecimento como uma maneira efetiva de combinar o conhecimento e as habilidades dos indivíduos de forma a atingir, ao mesmo tempo, seus próprios objetivos e os das organizações. O tema viria a ser mais extensivamente trabalhado em seu livro Knowledge Networking: Creating the Collaborative Enterprise, publicado quatro anos depois pela editora Butterworth-Heinemann. Mas já nesse artigo, Tecendo Redes de Conhecimento, que traduzimos e trazemos a vocês nesta edição de Inteligência Empresarial, Skyrme fala desse fenômeno dinâmico e rico no qual o conhecimento é compartilhado, desenvolvido e expandido.
Segundo o
consultor britânico, tecer redes de conhecimento é mais do que
simplesmente acessar informações. É um processo complexo,
cujo início pode-se precisar, mas cujos resultados são praticamente
impossíveis de serem avaliados uma vez que cada pequeno passo dado nessa
rede influencia o pensamento e as decisões sobre o novo passo a ser dado.
Cria-se um moto contínuo em que o conhecimento gerado a partir da rede
está sempre se expandindo.
Esse processo
complexo e dinâmico foi acelerado com o advento e o incremento das tecnologias
de informação e comunicação. Graças a elas,
os computadores, que há 30 anos não passavam de ferramentas de
processamento de dados, hoje são elementos fundamentais não apenas
na comunicação humana como no próprio processo de construção
do pensamento e do conhecimento. Em que pese o extraordinário aumento
no uso de computadores, adverte David Skyrme, muitas das organizações
armazenam neles somente uma pequena fração entre 10 e 30%
do conhecimento necessário para o seu funcionamento sob a forma
de processos ou procedimentos mecanizados. Os restantes 70 a 90% ficam na cabeça
das pessoas. É conhecimento tácito. Este último é
o conhecimento mais importante neste ambiente de negócios extremamente
dinâmico e é a chave para as organizações serem capazes
de responder com a flexibilidade e a presteza exigidas, afirma o especialista.
Tratar desse tipo de conhecimento é um dos papéis mais importantes
das redes de conhecimento. Como fazê-lo é o que nos ensina Skyrme
em seu artigo.
Também
os professores Carlos Alberto Messeder Pereira e Micael Herschmann, da Escola
de Comunicação da UFRJ, preocupam-se com o aproveitamento do conhecimento
gerado em redes e propõem uma reflexão em torno das questões
relativas à cultura e à comunicação no sentido de
melhor viabilizar processos de desenvolvimento local sustentado. Tomando como
exemplo concreto a região de Santo Antônio de Pádua, no
noroeste fluminense, onde se está consolidando um arranjo produtivo de
pedras ornamentais, os autores chamam atenção para o fato de que
uma atuação mais eficiente de todas as instituições
voltadas para ações de interesse público, especificamente
no que se refere ao apoio a arranjos produtivos locais, passa necessariamente
pelo bom encaminhamento de problemas e questões que dizem respeito às
esferas da comunicação e da cultura.
A importância
da comunicação também é destaque no artigo de Reinaldo
Canto, intitulado A Era do Conhecimento a Serviço das ONGs. Diretor de
comunicação do Greenpeace Brasil, ele demonstra que a comunicação
eficiente com a sociedade garante o respeito e a credibilidade necessária
para o Terceiro Setor. Já a questão do desenvolvimento sustentável
e da responsabilidade social das empresas é tema do artigo de Márcia
Neves, autora de três livros sobre diferentes aspectos do marketing social.
Em Sustentabilidade e RSC, vale a pena investir?, Márcia nos diz como
a atuação responsável das empresas tem sido cada vez mais
valorizada pelos consumidores. E como isso tem se revertido no aumento do próprio
valor das empresas no mercado.
O valor das
empresas é também o tema do livro O Capital de Risco no Brasil,
recém-lançado pela E-Papers. A economista Claudia Pavani, autora
do livro, nos enviou um artigo onde traça um panorama do atual estágio
da atividade no País. Segundo ela, a indústria de Capital de Risco
ainda não desenvolveu todo o seu potencial quantitativo e de eficiência,
e não há, até hoje, uma cultura do capital de risco estabelecida
entre as pequenas e médias empresas. Mas ela já é
uma realidade no Brasil e está em crescimento, e os investidores estão
em franco processo de aprendizagem, garante.
As vantagens
para o País e os ganhos para a cidadania que a adoção da
gestão do conhecimento no setor público pode trazer são
abordados em outros dois artigos. A designer Claudia Duarte, analisando três
reportagens publicadas no jornal O Globo, mostra como a gestão das informações
e do conhecimento gerados pelos processos administrativos passa a ser um problema
de prioridade máxima do governo quando se pensa numa inserção
mais competitiva do País no mercado internacional. E o economista André
Urani, na resenha do livro Brasil Eficiente, Brasil Cidadão, a tecnologia
a serviço da justiça social, afirma que, ao contrário do
que muita gente pensa, eficiência e bem-estar podem e devem caminhar juntos.
Citando o prêmio Nobel de Economia Amartya Sen, Urani diz que desenvolvimento,
na concepção moderna, tem muito mais a ver com as várias
dimensões da qualidade de vida do que com o mero crescimento econômico.
E que o livro, escrito pela jornalista Rosa Lima, com introdução
do professor Marcos Cavalcanti, comprova, através de exemplos concretos,
que o Brasil tem avançado muito nesse sentido, e que a tecnologia tem
sido um poderoso aliado neste processo.
Por fim, brindamos os nossos leitores com uma novidade muito especial. Trata-se da seção Pérolas do conhecimento. Nesta primeira edição, reunimos algumas das pepitas que garimpamos sobre o tema Redes de Conhecimento. As citações são de alguns dos maiores especialistas em gestão do conhecimento da atualidade e boa parte delas veio do web site entovation.com. Esperamos que vocês gostem e que nos enviem outras sugestões. Colaborações são sempre bem-vindas! Uma ótima leitura!
Os Editores