Revista Inteligência Empresarial - n.17
Centro de Referência em Inteligência Empresarial da Coppe/UFRJ
O tema central
desta edição de Inteligência Empresarial é o comércio
eletrônico, um dos poucos setores no Brasil que, nas palavras do diretor
executivo da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, Cid
Torquato, apresentou um verdadeiro espetáculo de crescimento no ano passado
cresceu 25% de 2002 para 2003. Justamente por ser tão promissor
e apontado como estratégico para o desenvolvimento sustentado do país,
ele merece um olhar cuidadoso.
Na entrevista que concedeu à revista, Torquato chama atenção
para a necessidade de o Brasil elaborar com urgência uma política
nacional de tecnologia de informação e comércio eletrônico
para não perdermos o bonde da história neste mundo globalizado.
Precisamos de uma política que integre as várias iniciativas
dispersas pelo país, defende.
O artigo-âncora deste número 17 pode ser um instrumento importante
para embasar a formulação dessa política. Ele é
o resultado de um amplo estudo sobre comércio eletrônico efetuado
em três países em desenvolvimento por um grupo de pesquisadores
da London School of Economics e do Institute for Developing Studies, de Sussex,
ambos na Inglaterra. Parte de um programa de pesquisa sobre Globalização
e Pobreza, financiado pelo Departamento para o Desenvolvimento Internacional
do Reino Unido, a pesquisa, bem como outros trabalhos relacionados ao tema,
estão disponíveis no site http://www.gapresearch.org/production/ecommerce.html.
A realidade do comércio eletrônico nos países em desenvolvimento,
relatório final da pesquisa, foi publicado em boletim no ano passado
e nos foi entregue em mãos por uma de suas autoras, a professora Robin
Mansell, por ocasião de visita feita por estes editores à London
School of Economics em novembro passado, com autorização expressa
para tradução e publicação em Inteligência
Empresarial.
A pergunta central do estudo é: Será que a implementação
do comércio B2B baseado na internet gera realmente novas oportunidades
de negócios para empresas dos países em desenvolvimento?.
As respostas encontradas vão na contramão do que nos habituamos
a ouvir.
Segundo os autores do estudo, as condições de mercado para empresas
produtoras nos países em desenvolvimento são influenciadas mais
pelas estruturas de mercado existentes e pelas práticas comerciais do
que pela introdução de novas tecnologias de informação
e comunicação (TICs).
De um modo geral, o estudo revela que o principal efeito do comércio
eletrônico B2B é a melhoria dos relacionamentos entre parceiros
comerciais já existentes e que esse tipo de comércio é
de pouca valia para forjar novos relacionamentos.
Há ainda uma mensagem clara para os formuladores de políticas
e os profissionais da área: se a intenção de usar alguns
tipos de comércio eletrônico B2B é ajudar as empresas a
ganharem acesso mais eqüitativo a mercados internacionais, é essencial
entender como o comércio internacional se organiza e como se desenvolvem
os relacionamentos entre empresas. E aí a principal sugestão apresentada
é taxativa: primeiro vem o comércio, depois a tecnologia.
Mestre em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, com tese dedicada
ao tema do comércio eletrônico, Fabiano Gallindo comenta o estudo
elaborado na Inglaterra e corrobora com suas conclusões. As infovias
de negócios estimuladas e fomentadas pelas agências internacionais
e governos locais, apesar de necessárias, não garantem por si
só novas chances de negócios e sucesso para empresas que esperam
entrar no comércio eletrônico B2B. Questões tão antigas
como confiabilidade, cadeia logística e atendimento às normas
internacionais de qualidade e segurança são inerentes e necessárias
de serem implementadas em consonância à vontade de atingir melhores
mercados, afirma.
Num casamento nada trivial, o cineasta e produtor cultural Luiz Carlos Prestes
Filho e o físico José Nicodemos Teixeira Rabelo uniram áreas
do conhecimento aparentemente díspares visando identificar os pontos
de estrangulamento e as oportunidades da Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Estado do Rio de Janeiro, de maneira a promover ações inovadoras
para o setor. As conclusões do estudo podem ser lidas no instigante artigo
Os Sistemas Complexos e a Fractalidade no Estudo da Cadeia Produtiva da Economia
da Música que também compõe esta edição.
Vale destacar ainda o artigo do editor Marcos Cavalcanti comentando pesquisas
realizadas entre os leitores da revista KM Review e entre os alunos da pós-graduação
MBKM, da Coppe/UFRJ, sobre os projetos prioritários em gestão
do conhecimento. É no mínimo curioso constatar que, apesar das
realidades tão distantes entre a Europa, o Brasil e os Estados Unidos,
são muito parecidos os temas que preocupam os profissionais da área
tanto nas organizações européias e americanas quanto nas
brasileiras.
E as Pérolas do Conhecimento desta edição são especiais:
elas compõem o relatório feito pelo consultor inglês David
Skyrme sobre o evento KM Europa 2003, realizado em Amsterdã, em novembro
passado. Segundo ele, algumas apresentações exaltaram a necessidade
de a gestão do conhecimento tornar-se mais relevante para as empresas,
e de darmos igual importância às necessidades humanas e sociais
e à tecnologia. Mas, para Skyrme, o que foi realmente novo foi
a sensação de que todas as diferentes linhas e visões da
gestão do conhecimento estão se aproximando de uma forma que podemos
prognosticar como uma nova vitalidade nos próximos anos. Alvissareiro,
não?
Antropólogo, professor e pesquisador da Escola de Comunicação
da UFRJ, Carlos Alberto Messeder Pereira atualmente desenvolve projeto junto
ao CNPq sobre Comunicação, Cultura e Desenvolvimento Local. É
dele a resenha sobre dois importantes livros recentemente publicados, que traduzem
sólido trabalho de pesquisa voltada para a problemática do desenvolvimento
local sustentável:
Interagir para Competir promoção de arranjos produtivos
e inovativos no Brasil, e Pequena Empresa cooperação e
desenvolvimento local. Não deixe de conferir.
Por fim, lembramos aos nossos leitores que a lista de discussão está
à disposição de todos interessados em enriquecer o debate
sobre temas relacionados à gestão do conhecimento. Desta vez,
o comércio eletrônico e seus desafios para os países em
desenvolvimento é o tema da pauta. Aguardamos sua participação,
mediada pelo editor Marcos Cavalcanti. Inscreva-se pelo e-mail inteligenciaempresarial@crie.ufrj.br.
Até a próxima!
Os Editores