Quando Rose Marie Santini apresentou sua idéia de trabalhar as relações entre música e novas tecnologias, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UERJ, fiquei dividido entre o ceticismo e o otimismo em relação ao meu trabalho de orientação.
Cético, pois a Modernidade se caracterizou pelas promessas de mudanças revolucionárias que as novas tecnologias sempre provocaram. A comunicação sofreu e sofre do entusiasmo provocado por essas promessas revolucionárias, embora as tecnologias aparentemente superadas continuem em vigorosa utilização. O leitor deve lembrar, por exemplo, da morte do “rádio” e do “cinema” que a televisão provocaria.
 Constatamos que as novas tecnologias provocam ações e reações  significativas, que geram adequações e novas formas de utilização  de recursos antigos. No caso do cinema houve mudanças significativas  do espaço e sua arquitetura, da produção de filmes, da  comercialização e exibição. O cinema, entretanto,  continua vigoroso. 
 Ações e reações são os focos das descrições  de processos e mecanismos que a autora realiza com a clareza que o desenvolvimento  do tema permite, sob a base de competência e sensibilidade que operam  em sintonia fina. 
 Cético, também, em relação as minhas possibilidades  de estabelecer um diálogo de estímulo e apoio para a tarefa, enorme,  que Rose Marie estava disposta a encarar. 
 Otimista, porque sabia que Rose Marie além de ser formada em Comunicação,  tinha estudado (por longos anos) música e participado ativamente de grupos  musicais. A dupla inserção me levava a pensar que poderia lidar  com os aspectos propriamente tecnomusicais dos problemas, amparada na familiaridade  e no contato direto com produtores de música, artistas profissionais  e amadores. 
Ela inicia as conclusões da sua dissertação dizendo que “as novas condições de produção, de registro e de distribuição da música reforçam a crença romântica e democrática de que todos podemos ser músicos, se participamos em alguma medida da sua produção, distribuição e consumo. As novas tecnologias possuem uma profunda afinidade eletiva com visão e sentimento românticos e democráticos da criação e difusão musical… Esta oferta de recursos viabiliza o acesso de mais pessoas aos modos inovadores de produção, criação e gravação de música. A subjetividade do processo de produção musical mudou: criar e gravar músicas usando recursos digitais sofisticados tornou-se relativamente simples e comum”.
 A descrição e análise das novas tecnologias de produção  musical explicam a idéia de democratização, sobretudo,  a produção central para seu trabalho e também para as promessas  revolucionárias de raiz romântica que visualizam as pessoas como  criadores, como artistas. Mais ainda, elas oportunizam uma maior autonomia do  artista, que pode colocar sua produção em circulação,  difundir sua arte de modo aberto, e viver de apresentações viabilizadas  pelo conhecimento da obra por parte do público. 
 Diante das agudas observações que Rose Marie explora, a “pirataria”  ou a legalidade da partilha de arquivos musicais parece ser um problema menor,  um problema apenas do mundo dos negócios que deverá encontrar  respostas criativas “de mercado”. 
 A escrita clara, os argumentos bem construídos, as evidências acumuladas  e a apresentação de diferentes pontos de vista dos envolvidos  no processo de mudança, fazem com que o livro seja indicado para além  do público da área da Comunicação, embora seja de  interesse direto dos estudantes e especialistas em Comunicação  e Arte.
 Devo dizer que Rose Marie significa para mim a constatação de  que beleza, sensibilidade, inteligência e competência de pesquisa  podem caminhar lado a lado, espero que por muito tempo e com novas contribuições.  
Dr. Hugo  Lovisolo
 Professor Titular da Faculdade de Comunicação  
 da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
 
							










Avaliações
Não há comentários ainda.