É com enorme satisfação que apresentamos essa coletânea. Ela reúne os oito artigos premiados no X Prêmio Antropologia e Direitos Humanos Edição 2022, organizado pela Associação Brasileira de Antropologia, através da Comissão de Direitos Humanos, na gestão das professoras Patrícia Birman e Cornélia Eckert, durante os anos de 2021 e 2022.
Trata-se de uma nova edição desse concurso na qual celebramos os vinte anos desta iniciativa e, com isso, o décimo número da coleção Antropologia e Direitos Humanos, resultado da premiação, que já conta com nove edições anteriores, todas disponíveis no site da Associação para download gratuito (http://www.portal.abant.org.br/aba/publicacoes/ ).
O presente concurso, que teve início em 2000 e contou com o patrocínio da Fundação Ford até 2008, tem se mantido em razão do apoio integral que a ABA proporciona ao garantir a organização da premiação e a posterior publicação dos livros com os artigos laureados. No decorrer dessas dez edições, esta iniciativa se consolidou como uma forma de engajar e estimular a produção de jovens pesquisadores no campo dos direitos humanos em todos os níveis de formação, incluindo assim desde seu início as categorias mestrado e doutorado, e desde 2004, a categoria graduação. Considerando a presente edição, a coleção já reuniu 61 artigos publicados, sendo 24 em nível de doutorado, 23 de mestrado e 14 de estudantes de graduação. Entre todos os números e artigos premiados, encontram-se representadas 22 instituições de ensino superior e de pós-graduação na área de Antropologia e/ou Ciências Sociais.
Ao longo desses anos, o objetivo do prêmio é estimular, apoiar e divulgar trabalhos que versem sobre a contribuição da Antropologia para diversas áreas relativas à temática dos Direitos Humanos. Na sua primeira edição, a Apresentação do Prêmio enfatizou:
[Os desafios de] abrir a Associação a temas menos tradicionais da disciplina antropológica, como reflexo da prática cada vez mais diversificada de seus associados, característica desta antropologia que praticamos fora do lugar onde se originou o pensamento disciplinar ao redor do ‘outro'. Esse outro que, aqui, somos nós mesmos e que provoca essa inserção diversificada no campo, a qual, embora necessária e obrigatória, coloca desafios cada vez mais complexos ao ofício do antropólogo na sociedade brasileira contemporânea. (KANT DE LIMA, 2001, p. 71).
Com o passar das edições do Prêmio, os desafios foram se complexificando com a crescente participação e intervenção no espaço público e social e na esfera política, da própria Associação, mas também dos/as/es antropólogos/as/es nos seus processos de formação e/ou atuação profissional. Complementarmente, os temas apresentados pelos trabalhos inscritos e premiados nos sucessivos concursos evidenciam uma diversificação ainda maior não só dos problemas abordados nas pesquisas, mas especificamente da articulação e inserção dessas discussões no campo dos direitos humanos. Desse modo, é possível afirmar que os esforços dos sucessivos empreendimentos na organização do Prêmio em prol da problematização e relativização da categoria "direitos humanos" renderam frutos relevantes para a produção antropológica. Tal produção tem percorrido esferas de reflexão sobre os significados, alcances, limites e/ou potencialidades da própria categoria "direitos humanos" até etnografias em variados campos e com diversas interlocuções sobre o prisma da luta e defesa por direitos, em relação a certas "minorias", inicialmente populações indígenas, população negra, comunidades tradicionais, crianças e adolescentes e mulheres, que, com o tempo, foram se ampliando para outros grupos sociais como ciganos, migrantes e refugiados, grupos LGBTQIA+, população em situação de rua, com maior ênfase nos movimentos sociais e lutas por direitos por eles protagonizados. Também têm sido objeto de reflexões desde edições iniciais do Prêmio as violações de direitos durante ditaduras militares e lutas pela memória, em especial na experiência argentina. Progressivamente e com maior ênfase, foram se destacando discussões no campo dos direitos humanos em articulação com as etnografias sobre práticas de poder, formas de tratamento e funcionamento das burocracias estatais, violências e violações de direitos por parte das agências do Estado. Em edições ainda mais recentes, as dimensões sobre o racismo estrutural no Brasil e a luta antirracista; sobre bullying, direitos reprodutivos e outras esferas, também foram ganhando espaço na articulação entre Antropologia e Direitos Humanos.
1 Kant de Lima, Roberto. Apresentação. In: Novaes, Regina Reyes; Kant de Lima, Roberto (orgs.). Antropologia e Direitos Humanos 1. Niterói: EDUff, 2001, p 7-8.
SUMÁRIOApresentação 6
Lucía Eilbaum | Ana Paula da Silva | Débora Allebrandt | Flavia Medeiros
Helder Ferreira | Juliane Bazzo | Paulo Victor Leite Lopes | Taniele Rui
A Ala LGBT do sistema prisional mineiro: de política modelo a política "em crise" 15
Vanessa Sander
"Famílias fora do armário": Emoções e mobilização política
em uma associação de mães e pais de filhos LGBT 49
Arthur Leonardo Costa Novo
O universalismo racista: tensões entre universalidade e
equidade no acesso de imigrantes ao Sistema Único de Saúde
na metrópole paulistana durante a pandemia de Covid-19 80
Alexandre Branco-Pereira
A violência de Estado na Baixada Fluminense:
as agências das mães e familiares de jovens assassinados 115
Giulia Escuri de Souza
Parto, Violência Obstétrica e Emoções: o (re)conhecimento
da dor no cotidiano de mães enlutadas e de "mães especiais" 148
Bruna Fani Duarte Rocha
"Unidas pelo fervo, fervidas pelo amor": notas sobre
um coletivo preto, positHIVo e LGBT+ na cidade de São Paulo 180
Bruno Nzinga Ribeiro
"EU PAGUEI AO ESTADO A BALA QUE MATOU O MEU FILHO": gênero,
raça e processos de Estado na audiência pública da ADPF 635 206
José Clayton Murilo Cavalcanti Gomes
Se o grileiro vem, pedra vai: redes de solidariedade e suborno na Fazenda Bonito, território Kalunga 242
Francisco Octávio Bittencourt de Sousa
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