A antietiqueta dos novos famosos
Guia para uma celebridade instantânea
Uma coisa logo
salta aos olhos na leitura do delicioso livro de Marcelo Arantes: sua reflexão
sobre o mundo dos novos famosos não começou quando
ele próprio, graças à exibição intensa na
TV, tornou-se um novo famoso. Há um tom fortemente irônico
e crítico que percorre todo o texto e que aponta, claramente, para certo
capital de reflexão anterior, denso e sofisticado.
Aliás,
esse talvez seja um bom divisor de águas para classificar, pelo menos
de início, o universo cada vez mais amplo e veloz das novas celebridades:
o quanto a recém criada celebridade já conhecia, pelo menos do
ponto de vista da capacidade de reflexão sobre este universo, do grand
monde da fama. Pois é visível que alguns embarcam nessa canoa
sem nenhuma noção do que vão enfrentar e mesmo dos limites
dos novos poderes que lhes serão atribuídos; enquanto outros já
chegam lá sabendo de modo razoável o quão rarefeito é
o ar que estarão respirando a partir daquele rápido e certeiro
(ou será rasteiro?) reposicionamento em meio à vasta e contraditória
constelação humano-massiva.
Construídas
no interior da complexa rede composta por emissoras de TV, revistas de fofoca
ou outras de ampla circulação, agentes, promoters, produtores,
personal stylists, assessores de imprensa e tantos outros profissionais
especializados, sem esquecer o boca a boca dos fãs e a inveja dos concorrentes,
as novas celebridades esbarram umas nas outras, em busca de um lugar ao sol...
Como posicionar-se nesse novo ambiente? Usar o talento, abusar da exposição
do corpo, estar todo o tempo em todos os lugares, dizer coisas inteligentes
com ar extremamente natural, sorrir, sorrir e ainda sorrir? Tudo vai depender
da estratégia que rapidamente se possa traçar ao longo do complicado
caminho nesse novo terreno cheio de surpresas e armadilhas.
Mas voltando ao
livro, há um travo de ironia vingativa ao longo de todo o
texto... Vingança contra quem? Contra o leitor ingênuo, que quer
a todo custo tornar-se uma celebridade e finalmente acredita ter encontrado
alguém que possa ajudá-lo com conhecimento de causa? Contra a
complexa máquina que produz celebridades em série? Contra ele
mesmo, por ter cedido ao desejo de experimentar o processo de criação
de uma nova celebridade e seu novo dia a dia de glamour? Contra quem
levou a melhor financeiramente no programa de que participou? O autor não
nos deixa chegar a uma conclusão clara e definitiva. Esse é seu
truque... E também seu grande trunfo!
Trata-se de uma
nova celebridade que não se deixa apanhar facilmente. Aliás,
como não se deixou apanhar no reality show que o projetou em rede
nacional. Embora não tenha chegado à final, passou bem perto e,
mais do que isso, soube construir, às vezes com tintas excessivamente
fortes, um personagem polêmico (nem sempre simpático) e com muito
assunto. Daí seu fã-clube, as súbitas paixões que
desperta nos incautos que cedem a seus encantos, os convites inusitados, enfim,
o drama diário de qualquer nova celebridade.
Assim, deixo um
conselho aos leitores, sobretudo àqueles mais ingênuos, novatos
ou excessivamente sequiosos de uma fama rápida cuidado! As regras
de antietiqueta aqui apresentadas são como aquelas ervas medicinais.
Lidas na dose certa podem curar, mas um erro na dose pode ser fatal. É
aí que mora o perigo... Do livro e do mundo da fama, seja ela instantânea
ou construída a duras penas.
Boa leitura, divirtam-se,
o livro, repito, é delicioso... Mas não se deixem seduzir muito
facilmente.
Carlos Alberto Messeder