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Resenhas de Leônidas Hegenberg (2004-2006)

Matemática, Filosofia, Linguagem, Ficção

Flavio Edmundo Novaes Hegenberg

Leônidas começou a escrever comentários a respeito de livros quando estava com 15 anos – talvez até antes disso. Em seus cadernos de ginásio, de 1941 e 1942, encontrei algumas anotações que podem ser vistas como embriões de suas posteriores resenhas. Por curiosidade, deliberei deixar aqui, em “Apêndice”, vários desses comentários da juventude.

Impressas, as primeiras resenhas apareceram no “Suplemento Literário”, do jornal O Estado de S. Paulo. O suplemento, semanal, criado em fins de 1955, estava sob a direção do professor Décio de Almeida Prado. Ali havia meia página inteiramente dedicada a comentar cinco ou seis livros novos.

Leônidas escrevia comentários a respeito de livros de lógica e filosofia da ciência ou da linguagem. O professor Décio divulgou-os com certa cautela, em 1958 e 1959. Em seguida, diante da favorável receptividade que tiveram, passou a estampá-los com regularidade. Entre as primeiras obras resenhadas estavam La logique contemporaine, de Robert Blanché (resenha publicada no Suplemento 104, de 25 de outubro de 1958), Introduction to symbolic logic, de Rudolph Carnap (6 de janeiro de 1959), Panorama dês idées contemporaines, de Gaetano Picon (19 de dezembro de 1959).

Em 1960, foram publicadas resenhas de Metodos actuales de pensamiento, de I. M. Bochenski (9 de janeiro), La revolución em filosofia, de A. J. Ayer (20 de fevereiro), Metascientific queries, de Mario Bunge (9 de abril), Cuadernos de la universidad de Mexico (21 de março), Wege zum philosophischen denken, de I. M. Bochenski (21 de março), Meu pensamento filosófico, de Bertrand Russell (18 de julho), La semantica, de Pierre Giraud (3 de dezembro). Em 1961, mais 16 resenhas apareceram. Outras nove resenhas foram publicadas, no Suplemento, ao longo do ano de 1962. Uma dúzia, em 1963.

Lamentavelmente, a página de resenhas do “Suplemento” do professor Décio deixou de ser publicada ou passou para outras mãos, e as contribuições de meu pai deixaram de ser acolhidas. Não tiveram êxito uma ou duas tentativas feitas no sentido de recuperar o espaço perdido, de modo que meu pai, afinal, com tristeza (segundo me disse) deixou de mandar colaborações para O Estado de S. Paulo.

Nessa época, resenhas de Leônidas começaram a aparecer em revistas. Lembremos que em 1959, ele foi admitido como “membro efetivo” do Instituto Brasileiro de Filosofia (IBF), criado e dirigido pelo professor Miguel Reale. Na Revista Brasileira de Filosofia (RBF), mantida pelo Instituto, publicou dois ou três pequenos artigos. Depois de passar dois anos estudando em Berkeley e tendo de lá mandado algumas notícias que o IBF divulgou, Leônidas passou a enviar resenhas para que fossem acolhidas pela RBF.

Leônidas exerceu a atividade de resenhador da RBF durante pelo menos 45 anos. Em 2002-2003, o IBF publicou um Índice da Revista Brasileira de Filosofia: 1951-2000. Essa publicação – patrocinada pelo Centro de Documentação do Pensamento Brasileiro, com sede em Salvador (Bahia), presidido pela professora Dinorah Berbert de Castro – relaciona (ordem cronológica), em 115 páginas, os artigos publicados pela Revista ao longo de seus primeiros 50 anos de existência. Em seguida, 147 páginas são dedicadas a registrar (também em ordem cronológica) as resenhas publicadas nesses anos. Enfim, nas últimas 177 páginas, há um índice de autores – indicando os títulos dos artigos que escreveram para a Revista. Se não errei a contagem, há 311 resenhas de Leônidas (ao lado de 35 artigos, de importância e tamanho variáveis). Observe-se que durante vários anos – por exemplo, entre 1995 e 1999 – pelo menos três resenhas apareciam em cada fascículo da RBF.

O “Índice” foi distribuído pelo próprio professor Reale, com direta e ajuda de seu eficiente colaborador-secretário Rubens Perez, a quantos estavam presentes, numa reunião da Academia Brasileira de Filosofia, em 2005. Na oportunidade, junto dos acadêmicos, Reale disse a meu pai, em tom de brincadeira, com um sorriso alegre:

– Você é quem mais escreveu na Revista! Mas eu escrevi mais!

Em geral, Leônidas escrevia pelo menos 20 resenhas por ano. Enviava-as regularmente para a RBF. Considerando que os quatro fascículos de cada volume da revista só estampavam, em geral, metade dos trabalhos que escrevia, meu pai procurou outros meios para divulgá-los. Foi assim que estabeleceu contato com Reflexão, revista dirigida pela professora Constança Marcondes César e publicada pela PUC, de Campinas (que publicou algumas resenhas em 1996), e com Cultura e Saúde, revista dirigida pelo professor Irany Novah Moraes, publicada pela Faculdade de Medicina da USP (onde também apareceram algumas resenhas, em 1997).

No século novo, meu pai continuou a escrever suas resenhas. Recebendo alguns livros editados em Portugal, preparou resenhas e mandou-as para os autores. Estes as divulgaram em revistas daquele país. Assim, Leônidas estabeleceu contato com “Crítica”, um portal mantido pelo professor Desidério Murcho, da Universidade Nova Lisboa – e anunciado como o mais completo meio de divulgação filosófica de todo o mundo, em língua portuguesa. Nesse portal, inúmeras resenhas foram divulgadas, durante vários anos (sobretudo entre 2000 e 2003-2004). A partir de 2004, meu pai perdeu contato com os professores lusitanos.

Um par de anos antes disso, preparando seu Curriculum Lattes, para efeito de atualização dos registros no MEC, meu pai pensou que as resenhas não cabiam em seu vitae, mas, de algum modo, deviam ser levadas em conta. Cogitou, então de reuni-las em um livro. Entretanto, a Editora Pedagógica e Universitária (EPU), com a qual meu pai sempre manteve estreita conexão, com base em mal sucedida experiência anterior, informou que livro do gênero seria comercialmente inviável. A idéia de livro de resenhas foi devidamente “engavetada”. Todavia, de modo inesperado, voltou à tona pouco tempo depois.

Em 2002, no Congresso de Filosofia patrocinado pelo IBF e realizado em João Pessoa, Leônidas conheceu a professora Mariluze Ferreira de Andrade e Silva, da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), em Minas Gerais. À professora Mariluze se deve a iniciativa de organizar um livro com uma centena de resenhas de Leônidas – preparado na gráfica da UFSJ – trazido a lume em 2003. Esse livro, distribuído em meia centena de bibliotecas universitárias e remetido para meia centena de professores, em vários pontos do País, mereceu acolhida favorável – não sendo poucos os elogios que recebeu. Para essa obra, intitulada Livros, sempre (342p.), a professora Mariluze, escreveu um interessante comentário introdutório. Aí, muito apropriadamente, afirma que a resenha é “a cultura do século XXI”.

Pormenores das atividades de Mariluze e Leônidas, especialmente em 2003-2005, acham-se descritas no livro Leônidas Hegenberg: um pensador brasileiro, livro que escrevi com a colaboração da professora Mariluze. Essa biografia de Leônidas, fartamente ilustrada, será publicada ainda no corrente ano, pela editora Pós-Moderno, comandada por Alex Catharino – que, aliás,­ publicou também, em 2005, o Novo dicionário de lógica, elaborado por Leônidas, com a colaboração de Mariluze.

É importante ressaltar que em 2003 a citada professora criou, também, um portal em que pretendia divulgar resenhas – elaboradas por meu pai, por outros professores e colaboradores e por ela mesma. Esse portal estampou muitas resenhas escritas naquela época. Infelizmente, desde a mudança de Reitor, na UFSJ, ocorrida em 2004, o portal não mais pode ser atualizado. De novo, meu pai ficou escrevendo resenhas para guardá-las em seu computador.

Durante um longo período (pelo menos enquanto subjetivamente “avaliado”), a Revista do professor Reale deixou de publicar resenhas de meu pai. Aparentemente, os trabalhos que ele remetia ao caro mestre não chegavam ao destino. Por isso, Leônidas deixou de enviar trabalhos para a RBF. Surpreendentemente, um dia, Reale “reclamou”. Meu pai recebeu, em 2005 – resposta a uma saudação de aniversário do caro mestre – o seguinte bilhete:

Prof. Leônidas,
A mensagem abaixo foi enviada anteriormente em 26 de junho do corrente, porém para o seu antigo endereço.
Meu caro Leônidas,
É com muita preocupação que lhe mando esta mensagem, apelando no sentido de enviar suas preciosas resenhas para a Revista Brasileira de Filosofia.
Sem elas a nossa revista fica nua, pois nem todos têm capacidade de leitura e de síntese como você.
É, pois, com a maior esperança que lhe envio esse recado, na certeza de que poderei contar com a sua colaboração admirável.
Muito cordial abraço de Miguel Reale.

Muito satisfeito, meu pai tornou a enviar colaborações, imaginando que fossem acolhidas pela secretaria da RBF.

Novamente, porém, as muitas colaborações enviadas ficaram retidas em algum canto dos arquivos da RBF. Assim, Leônidas tornou a buscar outros veículos em que divulgar seus comentários. Um desses veículos foi o portal Informacion Filosófica (IF), mantido, em Roma, pelo professor Ângelo Morocco. Nesse portal, diversos trabalhos foram divulgados.
Outro veículo foi à revista Ideação-Magazine, criada e editada pelo professor Nilo Reis, em Feira de Santana, Bahia. Aí saiu, por exemplo, o longo comentário em torno das idéias de Chaim Perelman – debatidas por vários intelectuais e postas em livro que a Universidade Estadual de Feira de Santana publicou.

Meu pai, aposentado e não mais presente, de maneira regular, nas salas de aula, diversificou suas leituras. Como é natural, deixou, pois, de mandar resenhas para o portal do professor Morocco. Uma vez mais, seus trabalhos passaram a ter o destino de outras vezes: o computador... Apesar de tudo, meu pai não interrompeu suas “escrivinhações”!

Vendo quantas resenhas ainda havia para divulgar, deliberei organizar este volume em que haveria uma quantidade apreciável de comentários inéditos. Digo “haveria”, pois, ...súbito, o professor Alex Catharino solicitou que Leônidas divulgasse alguns deles no portal do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalizada (CIEEP)... e ali, de fato, resenhas de meu pai voltaram a se tornar públicas.

Tanto melhor. Evitando atitudes de falsa modéstia, acho que as resenhas merecem divulgação – neste livro e por meio da CIEEP.

Aproveitamos a ocasião para registrar agradecimentos a Ana Claudia Ribeiro e Rachel Rodrigues, amáveis e competentes editoras da E-papers.

Flavio Hegenberg
março, 2007

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