Daqui desse lugar
100 artigos sobre Jornalismo, Política e Pertencimento
Há muitas
formas de entender o papel do jornalismo e dos jornalistas. Instituição
que de modo mais abrangente se associa à missão de informar a
sociedade com pretensa imparcialidade, o jornalismo também tem raízes
profundas no exercício da política e da opinião.
No caso brasileiro, a imprensa nasce com este espírito, herdado da Revolução
Francesa, onde o jornal é um espaço público de combate.
Jornal que tem alma é jornal que tem posicionamento em relação
à vida em sociedade.
O primeiro jornal do País, o Correio Braziliense, fundado em 1808,
pode ser tomado como um genuíno representante do gênero. Editado
em Londres, informava o que se passava no Brasil, mas combatia e opinava com
a pena vigorosa de Hipólito José da Costa.
Frei Caneca, um padroeiro não canonizado dos jornalistas brasileiros,
também foi um combatente que usava a escrita como arma. No seu jornal
Tifís Pernambuco, que durou apenas 28 edições, defendeu
a causa republicana e acabou condenado à morte em 1825, sentença
executada por um pelotão de fuzilamento.
Mesmo nos jornais contemporâneos, onde, na maioria dos casos, a postura
editorial busca se associar a valores como pluralidade e independência,
o fato é que é nítida a presença de uma determinada
visão ideológica a conduzir o noticiário aparentemente
isento. Ou, de modo mais explícito, a opinião está presente
e é ansiosamente consumida pelos leitores nos editoriais, artigos e colunas.
Informar e opinar são, portanto, práticas indissociáveis
no jornalismo. E muitos jornalistas se encantam com a profissão justamente
pela possibilidade que ela oferece de interferir no debate público da
sua cidade, da sua região ou do seu País.
Este é o caso dos textos reunidos neste livro. Eles são frutos
de uma prática jornalística de posicionamento em relação
à realidade. Negando a chamada teoria do espelho onde o jornalismo
apenas refletiria o real o articulista assume a sua potencial interferência
na vida pública e acaba por oferecer um registro opinativo sobre uma
época.
Aqui organizados em ordem cronológica decrescente, estes 100 textos foram
publicados nos jornais fluminenses A Cidade, Folha da Manhã,
Jornal do Brasil e Monitor Campista, e nos sites Observatório
da Imprensa e Ombudsman e o Leitor, entre 1999 e 2007. A seleção
dos artigos teve como critério a possível atualidade opinativa,
ainda que, em alguns casos, o elemento que sustenta a opinião tenha sido
um fato que se perdeu no passado e, portanto, não mais se caracteriza
como notícia.
A divisão em três partes jornalismo, política e pertencimento
organiza preferências temáticas, com ênfase significativa
no terceiro momento. Pertencimento foi o termo encontrado para definir o envolvimento
com uma determinada visão de mundo, uma espécie de pertencer simbólico,
que norteia as opiniões que vão do local ao global.
A idéia de cidade desempenha, aqui, um papel muito acentuado.
E esta cidade chama-se Campos dos Goytacazes (RJ). É desse lugar geográfico
e simbólico que o autor parte para opinar, observar, registrar. Mas poderia
ser de qualquer outro. Inclusive aquele do leitor não campista. Assim
como acontece com as pessoas, a identidade das cidades se constrói também
na relação com as outras.