Recursos informacionais para compartilhamento da informação
Redesenhando acesso, disponibilidade e uso
Maria Júlia Giannasi-Kaimen e Ana Esmeralda Carelli (org.)
A diversidade
de recursos informacionais, que abrange o texto, a imagem e o som, apresenta
novas questões relativas ao acesso, disponibilidade e uso da informação.
Estas questões encontram-se discutidas nos trabalhos reunidos em Recursos
Informacionais para o Compartilhamento da Informação.
O enfoque dado
ao aspecto do compartilhamento como finalidade dos recursos informacionais reflete
o entendimento de que o aprimoramento tecnológico desses recursos só
se justifica quando os tornam veículos mais adequados, fáceis
e ágeis para a aquisição, compartilhamento e uso da informação.
Rioux descreve
conceitualmente a aquisição e o compartilhamento de informação
como um conjunto de comportamentos e processos no qual um indivíduo:
O compartilhamento
pressupõe um processo de interação humana no qual um indivíduo
partilha com outro uma necessidade de informação e o outro, em
troca, partilha uma informação que detém ou adquiriu e
que atende a essa necessidade. O compartilhamento necessita, portanto, de mecanismos
que facilitem os processos de interação e de acesso à informação.
Para tanto, é essencial contar com meios de organização
e recuperação da informação, para que recursos informacionais
possam ser localizados e acessados quando necessários.
As tecnologias
da informação e da comunicação atuam como facilitadoras
do processo de compartilhamento da informação, pois disponibilizam
recursos para a interação humana e para a organização
e o acesso à informação. Essas tecnologias possibilitam
também que esses processos ocorram em larga escala.
Mesmo que não
seja o foco dos trabalhos desta coletânea, a tecnologia permeia os temas
abordados, uma vez que os produtos e serviços de informação
sofrem o impacto da evolução tecnológica. Svenonius reforça
este ponto de vista ao apontar a revolução da tecnologia como
o evento que mais causou impacto na organização da informação
no século passado e ressalta que esse impacto teve como principal fator
a mudança das tipologias de recursos informacionais a serem organizados
e dos meios utilizados para sua organização. A tecnologia influencia,
portanto, os processos de produção, tratamento, acesso e uso de
informações.
As mudanças
relativas a esses processos, no entanto, não se referem ao conteúdo
dos documentos propriamente dito, uma vez que o valor semântico da informação
não é afetado pelos suportes físicos usados para sua transferência
no espaço e no tempo, o conceito é um elemento invariável,
os conteúdos dos documentos, sejam eles digitais ou não,
não sofreram quaisquer alterações; porquanto suas existências
se referem a objetos, pensamentos e idéias presentes no mundo cognoscível
e no imaginário da humanidade, em sua necessidade básica de comunicação.
As mudanças se fazem sentir, sobretudo, nas formas de acesso, disponibilidade
e uso, daí a importância de abordar essas questões, sem,
contudo, considerar apenas o aspecto tecnológico, pois o progresso
tecnológico não significa progresso informacional e este só
pode ocorrer em um contexto em que o conteúdo e o uso sejam enfatizados.
Neste sentido,
os Capítulos 2, 3 e 8 desta coletânea ao tratarem, respectivamente,
do uso de patentes, do uso de produtos e serviços de informação
e do desenvolvimento de competência informacional para o uso de recursos
informacionais, contribuem para mudar o foco de atenção dos estudos,
pois não enfatizam a tecnologia em si, mas o uso das informações
que essa veicula. Os três capítulos respondem ao apelo de Artandi
de olhar criticamente para a demanda da informação na sociedade,
para a maneira como temos respondido a ela e, dessa forma, pensar as soluções
futuras para os problemas da área.
O Capítulo
1 da coletânea nos faz refletir que o Estado tem um importante papel na
solução dos problemas informacionais e na promoção
do uso das tecnologias em benefício do desenvolvimento, uma vez que a
tecnologia da informação não serve como uma panacéia
para todas as doenças socioeconômicas e, portanto, devem
ser criadas condições para assegurar o seu uso potencial e, conseqüentemente,
maior benefício social.
No Capítulo
5, os aspectos sociais do uso dos recursos informacionais voltam a ser abordados
na discussão sobre os impactos das tecnologias da informação
e da comunicação na cultura contemporânea. O paralelo traçado
entre Brasil e Espanha permite dimensionar como essas tecnologias interferem
em ambientes culturais distintos.
O cinema é
uma das principais manifestações da cultura contemporânea
e, a exemplo dos demais tipos de recursos informacionais, sofre os impactos
das TICs. Novos desafios são colocados, sobretudo, no que diz respeito
à organização e recuperação de imagens digitais,
pois, como destaca Miranda, com a tecnologia digital o conteúdo
torna-se plástico, isto é, qualquer mensagem, som, ou imagem pode
ser editada, mudando de qualquer coisa para qualquer coisa. Diante deste contexto
de mudança imposto pela imagem digital, o Capítulo 7 discorre
sobre os aspectos informacionais da imagem cinematográfica e destaca
os recursos de informação específicos para esta forma de
expressão cultural.
A área
da comunicação científica sente os impactos dos novos recursos
informacionais, pois é exatamente no contexto da comunicação
científica que ocorrem as maiores mudanças provocadas pelas tecnologias
da informação e da comunicação. Como afirma Mikhailov,
a tecnologia nunca foi e, também, não é hoje o principal
fator determinante do desenvolvimento na esfera da comunicação
científica. No entanto, o mesmo autor reconhece que as maiores
descobertas da tecnologia da informação, a exemplo da invenção
da imprensa e da automação do processamento da informação,
determinaram à mudança do nível de comunicação
em cada época. Atualmente, um exemplo concreto da influência da
tecnologia na comunicação científica diz respeito à
proposta subversiva de Harnard, na qual o autor defende o acesso
livre à literatura científica, que se torna viável com
as novas facilidades de acesso e compartilhamento de informação.
O Capítulo 6 contribui para difundir os conceitos de acesso livre ao
tratar das fontes de informação que adotam essa filosofia.
Nos meios acadêmico
e científico, o volume de recursos informacionais em meio digital e a
necessidade de atender melhor ao critério de relevância nos resultados
exigem que os instrumentos de busca sejam cada vez mais eficazes. Para a recuperação
de informação na Internet, os mecanismos de busca cumprem a função
que os sistemas de recuperação de informação desempenham
nas bases de dados bibliográficas. No entanto, o ambiente web
não dispõe dos recursos de seleção, organização
e recuperação que os ambientes das bases de dados oferecem. As
dificuldades de acesso a informações relevantes são conhecidas
dos usuários da web. Daí a importância de analisar
as facilidades de busca oferecidas por dois desses mecanismos o Google
Acadêmico e o Scirus, como apresentado no Capítulo 4 desta
coletânea, que fornece parâmetros úteis para que o usuário
decida qual o meio mais eficaz para realizar pesquisa sobre informação
acadêmica e científica na Internet.
A proposta de redesenho do acesso, uso e disponibilidade trazida pela coletânea enfatiza que esses três processos não podem ser vistos de maneira isolada, pois uso pressupõe acesso, acesso pressupõe disponibilidade que, por sua vez, pressupõe organização da informação. São processos que se encadeiam para que ocorra o compartilhamento da informação. Ao discutir esses aspectos nos contextos social, cultural e científico, os textos da coletânea contribuem para a reflexão acerca das mudanças provocadas pelos novos recursos informacionais.
Marisa Bräscher
Presidente da Ancib