Produção colaborativa na sociedade da informação
Clóvis Ricardo Montenegro de Lima e Rose Marie Santini
Este livro traz
a coletânea de artigos produzidos de modo colaborativo com Rose Marie
Santini entre o segundo semestre de 2006 e meados de 2008. Estes artigos são
resultado da investigação sobre informação nos processos
de produção dos Pontos de Cultura fomentados pelo Ministério
da Cultura, como professor do Programa de Pós-graduação
em Ciência da Informação da UFSC, e da investigação
de Marie sobre organização e recuperação da música
como doutoranda em Ciência da Informação no Ibict.
Quer-se contribuir
para a discussão do trabalho e da tecnologia na sociedade da informação.
Destacam-se os conceitos de trabalho imaterial e de tecnologias de informação
e comunicação. A descrição do processo de desenvolvimento
dos softwares livres evidencia diferenças entre copyright
e copyleft na economia capitalista pós-industrial. O conceito
de produção colaborativa contribui para pensar de modo crítico
o pós-fordismo e a inovação produtiva.
O Capítulo
I é sobre o Creative Commons e a produção cultural
colaborativa. Ele evidencia que o conceito de direito autoral como propriedade
intelectual parece esgotado e se mostra inadequado na sociedade da informação.
As formas colaborativas de produção de saberes, bens culturais
e informação impõem novo enfoque. Wikipédia
e o Linux são exemplos desta cooperação em estruturas abertas.
A internet viabiliza comunicação horizontal e em tempo real entre
produtores e usuários que se potencializam por licenças
de uso.
O Capítulo
II aborda o código fonte aberto e a produção colaborativa
nos Pontos de Cultura fomentados pelo Ministério da Cultura. Os Pontos
de Cultura são agentes da preservação e da promoção
da diversidade cultural. A formação de territórios conectados
em plataformas tecnológicas, onde se produz, registra e compartilha texto,
som e imagem, e outras formas de criação artística, podem
potencializar processos de inclusão e bem-estar social. A iniciativa
dos Pontos destaca o potencial das novas tecnologias digitais como dispositivos
articuladores da sociedade, entrelaçando experiências, saberes
e informações.
O Capítulo
III fala sobre trabalho imaterial, compartilhamento de informação
e produção colaborativa na sociedade da informação.
Neste trabalho são revistos e discutidos conceitos em torno das formas
colaborativas de produção na sociedade da informação,
particularmente o trabalho imaterial e o compartilhamento de informação.
O capitalismo pós-industrial (seu modo de desenvolvimento informacional)
produz mudanças nas relações entre formas sociais de produção
e tecnologias de informação e comunicação.
A produção
capitalista atual centraliza os bens imateriais, especialmente a informação.
O compartilhamento de informação é parte do processo de
produção e, ao mesmo tempo, o seu principal produto. O compartilhamento
intersubjetivo possibilita a construção de modos de organização
e produção inteligentes e solidários. O compartilhamento
produz o comum, em comum. Cria-se uma densa esfera do comum, base para uma recriação
incessante. As formas colaborativas de produção são importantes
para que se singularizem as subjetividades e se produzam modos autônomos
de vida.
A seguir, o Capitulo
IV discute novamente trabalho imaterial e produção colaborativa
na sociedade da informação, conectados ao conceito da economia
da dádiva de Marcel Mauss. O capítulo registra como o capitalismo
informacional produz mudanças nas formas sociais de produção.
Compartilhamento e colaboração possibilitam a construção
de modos de organização solidários. Aqui formas colaborativas
de produção são relacionadas principalmente aos modos autônomos
de trabalho.
O Capítulo
V está focado na produção colaborativa de softwares
livres, como processo típico das relações entre trabalho
e tecnologia na sociedade da informação. A combinação
do código fonte aberta com licenças criativas pode fazer com que
os processos de produção colaborativa não se interrompam
com a apropriação privada dos seus produtos. Estes processos abertos
viabilizam trabalho cooperativo e solidário.
O Capítulo
VI fala das licenças de uso de informação e da inteligência
coletiva no capitalismo pós-industrial. São destacadas a Free
Documents License FDL e o Creative Commons CC. As formas
imateriais e colaborativas da informação requerem novos enfoques
do direito autoral como direito moral e não proprietário. A produção
colaborativa pode se construir sob licenças para usar e recriar livremente
produções anteriores.
É possível
imaginar a dispensa da proteção legal do copyright, tornando
idéias, softwares, músicas, imagens e textos livres e acessíveis
a todos. A redução do controle político e econômico
não visa apenas facilitar o acesso aos bens, mas também liberar
inovação e desenvolvimento econômico. As licenças
criativas de uso da informação constituem poderoso agente de mudança
social e econômica, pois advertem para a inadequação dos
sistemas de copyright e de patentes na sociedade da informação.
O livro repete
a exaustão alguns conceitos sociedade da informação
em primeiro lugar. A sociedade da informação se diferencia das
outras sociedades do conhecimento, particularmente pela centralidade da informação
nos processos sociais e nas relações econômicas. A sociedade
da informação é bem mais do que uma política de
estados pós-nacionais e nacionais, sendo um conceito que aparece em autores
como André Gorz, Antonio Negri e Manuel Castells para designar este tempo
de capitalismo pós-industrial.
A partir das discussões vai-se desenvolvendo o conceito de produção colaborativa. Este conceito parte do trabalho imaterial e da cooperação no trabalho para produzir um contraponto pós-industrial à linha de montagem da indústria moderna. A produção de softwares livres é exemplar deste processo, em que o compartilhamento intersubjetivo cria vínculos e solidariedade.
Florianópolis,
18 de junho de 2008.
Clóvis Ricardo Montenegro de Lima