Comunicação e tecnologias
Bruno Fuser e Carlos Pernisa Jr. (orgs.)
Apresentamos nesta
coletânea um conjunto de artigos de integrantes do Grupo de Pesquisa Comunicação
e Tecnologias, vinculado ao Mestrado em Comunicação e Sociedade,
da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). São professores e alunos
do curso, que trazem reflexões teóricas e resultados de pesquisas
relacionados a sua atividade acadêmica, como docentes ou como alunos do
curso.
Francisco
José Paoliello Pimenta e Júlia Pessôa Varges, em Second
Life: vida e cidadania além da realidade virtual?, fazem um estudo
de duas plataformas de entretenimento eletrônico, The Sims e Second Life,
no sentido de verificar como estão se dando as vivências no cotidiano
físico, concreto, e as novas possibilidades de relacionamentos humanos
em cenários digitais imersivos como base para a participação
política. Também lidando com o Second Life, Dimas Tadeu de Lorena
Filho e Camila Wenzel, em A degenerescência sígnica do metaverso:
estudo comparativo entre a web e o Second Life, estudam a relação
entre o site da Adidas na web e a loja da mesma empresa no metaverso, buscando
compreender como a Internet traz novas formas de representação.
As
alterações da sociabilidade causadas pela expansão das redes
mediadas por computadores na subjetividade humana e nos relacionamentos entre
seus usuários, bem como os aspectos envolvidos no processo de representação
pessoal na Internet, compõem o tema de Representar-se on-line: a experiência
de usuários do programa MSN Messenger, da mestre Vanessa Alkmin Reis.
O trabalho alia a investigação teórica à aplicação
de pesquisa empírica, com uma amostra real de usuários do programa,
e conclui que a proximidade com as redes sociais físicas e não mediadas
e a adoção do endereço de e-mail como critério
de busca, seleção e exibição de contatos contribuem
para bloquear, em certa medida, os jogos de construção de identidades
entre os clientes do MSN Messenger.
Já
Marta de Araújo Pinheiro, em Subjetivação e consumo em
sites de relacionamento, vai se utilizar do site de relacionamentos
Myspace.com para verificar as transformações das relações
de subjetivação, cultura e consumo. Isso é feito a partir
da progressiva liberação da associação do consumo
às categorias de classe social, estilos de vida e atualização
do self que permite aproximá-lo do conceito de governabilidade.
Outro
texto que aborda as sociabilidades intermediadas ou criadas pelas tecnologias
digitais é Free Hugs Campaign: novos hábitos através dos
suportes hipermídia, da mestranda Lívia Bergo. No artigo, discutem-se
as possíveis razões para o sucesso da Free Hugs Campaign (Campanha
de Abraços Grátis), articulando-a com os conceitos da Semiótica
de Charles Sanders Peirce. O movimento analisado tornou-se uma manifestação
mundial em 2006, tendo como principal meio divulgador a Internet, especialmente
o site de compartilhamento de vídeos YouTube.
Carlos
Pernisa Júnior e Carlos Eduardo de Martin Silva, em Jogo, experiência,
comunicação e tecnologia: Huizinga, Benjamin e Winnicott, estudam
como o jogo pode ser entendido como elemento da cultura, tendo a importância
de colocar-se como um aspecto no processo de transformação do próprio
homem no que ele é hoje. O jogo aparece também em seu caráter
de experiência. A experiência do jogo é aquela dita ilusória
de inludere, ou seja, em jogo , o que leva a se
pensar nas possibilidades do jogo como maneira de estar no mundo, desde os primórdios
até os dias atuais, em tempos de jogos eletrônicos dos computadores.
A
articulação entre cidadania e tecnologias digitais é abordada
em dois artigos: em As TICs em contexto de cidadania e ação cultural,
de Bruno Fuser, discute-se a importância de as políticas públicas
de inclusão digital desenvolverem e fortalecerem ações voltadas
para a cidadania cultural, em perspectivas criativas e contra-hegemônicas
em relação à cultura dominante. A ação cultural
é discutida como parte de uma política específica, e que
deverá estabelecer uma série de iniciativas visando à promoção,
produção, distribuição e uso, além da preservação
e divulgação dos patrimônios materiais e imateriais de determinado
segmento ou grupo social. Tais conceitos embasam o projeto Comunicação,
Memória e Ação Cultural, apoiado pela Fapemig, e que
desenvolve atividades de pesquisa e de extensão no bairro Dom Bosco, na
periferia de Juiz de Fora.
Em
Cultura digital, hipermídia e e-Gov, o mestre Júlio César
Coelho discute a tecnologia e a linguagem da hipermídia, articuladas aos
conceitos de governo eletrônico, cidadania e processos multicódigos.
O estudo constata que o Portal da Prefeitura de Juiz de Fora deve incorporar na
sua concepção os recursos hipermídia, com suas capacidades
multicódigos, como suporte para incentivar a participação
direta do cidadão na elaboração de políticas públicas
e novas formas de exercer a democracia participativa e a cidadania global.
Fechando a coletânea, Janaina de Oliveira Nunes, em Comunicação, sociedade e novas tecnologias: Bases de transformação para novas práticas de produção e recepção do jornalismo on-line, procura entender os novos paradigmas da sociedade em rede e as novas formas de cognição desencadeadas pelas tecnologias informacionais. Neste contexto, destaca o surgimento de uma geração de consumidores produtores prossumidores e ressalta a ação desses agentes no ciberespaço, visto como um ambiente não-democrático, no qual as produções culturais competem entre si para ter visibilidade e o jornalismo produzido por profissionais da área vai disputar espaço com usuários que são ao mesmo tempo leitores e produtores de conteúdo.