Identidades midiáticas
Iluska Coutinho e Paulo Roberto Figueira Leal (orgs.)
Diante da constatação
de que os meios de comunicação de massa constituem, na contemporaneidade,
um espaço privilegiado de vocalização dos mais variados discursos
relacionados a grupos ou práticas sociais, é inevitável que
os estudos de numerosas áreas incorporem o discurso midiático como
uma variável relevante inclusive por conta dos impactos identitários
produzidos pela mídia.
Neste
contexto, a primeira parte do livro (Meios, Cidadania e Participação)
reúne quatro textos que problematizam questões relativas a estas
interfaces. No capítulo Aportes teóricos para um estudo sobre
a participação na comunicação, Cláudia
Regina Lahni; Fernanda Coelho da Silva; Maria Fernanda França Pereira e
Mariana Zibordi Pelegrini discutem a comunicação comunitária
como peça fundamental para o exercício da cidadania, mas analisam
as três rádios autorizadas como comunitárias do município
de Juiz de Fora para avaliar se, de fato, elas atendem aos requisitos para serem
assim denominadas.
Aline
Silva Correa Maia e Isabela Rodrigues Veiga, em O enfoque espetacular da
Operação Hurricane no Fantástico: a consolidação
da Polícia Federal justiceira no imaginário brasileiro,
por sua vez, têm como objeto de estudo a reportagem exibida no Fantástico,
em abril de 2007, sobre a Operação Hurricane, realizada pela Polícia
Federal. Demonstra-se que ali se constrói para a PF o papel de justiceira
o que nem sempre leva em conta as garantias constitucionais dos cidadãos.
Já
em Uma Jornada pela Produção Jornalística em suas Interações
com o Turismo: reflexões sobre a revista Viagem & Turismo,
Débora de Paula Falco e Marcelo Carmo Rodrigues salientam algumas das interações
entre jornalismo e turismo. Observa-se que o jornalismo tornou-se um elemento
fundamental para construção do turismo como fenômeno social
na contemporaneidade e utiliza-se a revista Viagem & Turismo como exemplo.
No
texto Identidade, diversidade e desafios: Reflexões sobre a Terminologia
Comunicacional nas Organizações, Boanerges Lopes e Cássia
Lara debatem as nomenclaturas utilizadas para designar as atividades de comunicação
desenvolvidas em realidades organizacionais e discutem as interpretações
dos estudiosos do assunto, com perspectivas e desafios aos meios acadêmico
e profissional.
Na
segunda parte do livro (TV e Representações Simbólicas),
cinco textos avaliam o papel desempenhado pela televisão na construção
de sentidos socialmente compartihados. Em Telejornalismo e identidade nacional:
a brasilidade narrada pelo Jornal Nacional, Lara Linhalis Guimarães
e Bianca Alvim analisam como a construção da identidade nacional
brasileira tem sido empreendida historicamente por diferentes instituições,
das quais se destaca a mídia contemporaneamente, sobretudo a Rede
Globo de Televisão.
Dramaturgia
do Telejornalismo Local: Os personagens como referências do Jornal da Alterosa
e MGTV 1ª Edição, de Iluska Coutinho, Lívia Fernandes
e Jhonatan Mata enfocam os personagens que emergem dos discursos veiculados por
dois programas de produção e veiculação local: Jornal
da Alterosa Edição Regional e MGTV 1ª Edição,
tendo como pressuposto que aqueles que têm direito à voz nesses dois
espaços de produção simbólica são vistos como
referências para a conformação de uma identidade local em
Juiz de Fora.
Simone
Martins, no capítulo Da Audiência Presumida ao Espectador Participativo:
A presença do público na construção do Jornal da Alterosa
Edição Regional, enfatiza a criação de vínculos
entre o telejornalismo de produção local em uma emissora afiliada
ao SBT na cidade de Juiz de Fora e o público a que se destina, com foco
nas estratégias do telejornal para produzir identificação
com o público.
Já
o texto O personagem (do) jornalista em novela de televisão,
de Aluizio R. Trinta e Teresa Cristina da Costa Neves, aponta como as telenovelas
dão forma e substância a distintas representações sociais,
pautadas no imaginário coletivo e projetadas para seu reforço; entre
elas, figura a do jornalista. Em duas telenovelas subsequentes, exibidas pela
Rede Globo, personagens jornalistas proporcionaram um flagrante bem matizado de
relações de veracidade constatável, no que tange à
realidade profissional desta categoria.
Em
Espaços identitários na teledramaturgia, José
Luiz Ribeiro e Humberto Fois Braga produzem um estudo de teledramaturgia, tendo
como universo temático a reconstrução simbólica de
espaços identitários. Discutem-se a configuração de
narrativas formantes da identidade através da produção cenográfica
como suporte teledramatúrgico e o cruzamento entre o espaço turístico
e a conformação visual de cronotopos.
A
terceira parte do livro (Imprensa e História) reúne cinco
trabalhos. Jorge Felz e Bruno Mourão Paiva Imagem e memória
o fotojornalismo como elemento de construção da memória
juiz-forana discutem as relações existentes entre memória
e fotografia, com ênfase na análise de como as fotografias produzidas
para o jornal Diário Mercantil, entre 1912 e 1960, podem ter contribuído
para a construção de uma memória coletiva para a cidade de
Juiz de Fora e, por conseguinte colaborado na elaboração da identidade
urbana.
A
imprensa e a memória do lugar: Juiz de Fora (1870/1940), de Christina
Ferraz Musse, debate o papel da imprensa na formação dos núcleos
urbanos brasileiros, na segunda metade do século XIX e primeiras décadas
do século XX. Para tanto, exemplifica o caso da cidade de Juiz de Fora,
onde os jornais tiveram expressivo papel para a consolidação do
modelo capitalista, nos moldes do ideário republicano.
Paulo
Roberto Figueira Leal, Gláucia da Silva Mendes e Lívia Fernandes,
em A Capital Revolucionária: o Diário Mercantil de Juiz de
Fora e a representação jornalística do papel da cidade no
golpe militar, buscam identificar que representações o Diário
Mercantil fez do regime militar em 1965. Foram analisadas as matérias
políticas de todas as primeiras páginas do jornal naquele ano, buscando
apontar os enquadramentos jornalísticos dados não só ao regime,
mas ao próprio papel da cidade de Juiz de Fora no golpe militar.
As
Mulheres da página 6: A representação da mulher nas páginas
policiais do Jornal Diário da Tarde em 1964, de Maria Cristina
Brandão de Faria e Flávio Lins Rodrigues, analisa como a mulher
era percebida e representada no jornal Diário da Tarde, que fazia
parte do grupo dos Diários Associados em Juiz de Fora. Examinou-se o período
de 18/10/1964 a 18/11/1964, aproximadamente seis meses após o golpe militar,
com ênfase na página 6, que era a página policial. Neste momento
da história, a mulher praticamente só aparecia no noticiário
em temas relativos ao domínio do privado (por exemplo, crimes
passionais), nunca em temas típicos do espaço público
(por exemplo, política).
Finalmente, Enquadramentos de mídia e preferências políticas da imprensa as valências na cobertura das eleições de 1988 pela Tribuna da Tarde, de Francisco Ângelo Brinati, recupera a cobertura jornalística das eleições municipais de Juiz de Fora em 1988 com ênfase na identificação das representações simbólicas das candidaturas efetivada pela Tribuna da Tarde veículo e nas valências das matérias. Discute-se o fenômeno da personalização das disputas políticas, num contexto de centralidade dos meios de comunicação na construção dos cenários eleitorais.