capa do livro

A reconquista do território

Etnografias do protagonismo indígena contemporâneo

João Pacheco de Oliveira (org.)

Este livro foi organizado com o objetivo de buscar compreender a formação e reconhecimento de territórios indígenas. Embora haja uma extensa e rica literatura sobre o assunto, a nossa impressão é que este fenômeno social foi abordado primordialmente como um processo administrativo e jurídico, não como um processo político que ocorre em distintas escalas e envolve temporalidades diferente , algo assim a ser estudado pela Antropologia e que estimule à elaboração teórica inovadora.

A demarcação de uma terra indígena é algo absolutamente central para o povo ou comunidade que ali constitui o seu homeland (terra natal ou, num sentido mais metonímico, “pátria”), assumindo um papel crucial no permanente processo de reorganização e auto-construção daquela sociedade, na constituição de redes de poder e autoridade, na atualização de suas tradições culturais e na formulação de sua identidade. A finalidade desses trabalhos é explorar analiticamente o território enquanto chave analítica para a compreensão das sociedades indígenas.

Os textos publicados estão todos referidos a um contexto espaço-temporal bastante definido, tratando fundamentalmente das demarcações de terras no Brasil em um período de cinco décadas (1970 a 2020). Não há porém qualquer intenção de construir um panorama histórico das demarcações durante este cerca de meio século. Isso exigiria focalizar as transformações na política indigenista ou na legislação pertinente, assim como correlacionar tais mudanças com o estabelecimento de fronteiras internas e com movimentos globais.

Todos os textos, assim, estão dirigidos para a compreensão de situações específicas, mobilizando para isso o arsenal etnográfico de que dispõe os seus autores, que sem exceção escreveram teses ou monografias aprofundadas, voltadas especificamente para os casos aqui estudados. Também não houve qualquer intenção de esgotar o estudo das demarcações de territórios indígenas, mas de fazer avançar algumas hipóteses que possam ser úteis para o estudo antropológico destes processos.

Os trabalhos foram escritos e desenvolvidos separadamente, com a explícita recomendação de explorar as preferências teóricas e bibliográficas de cada autor. Seria difícil assim organizar por blocos temáticos os estudos aqui apresentados. Como as demarcações sempre duram longos períodos seria igualmente difícil conseguir ordenar os textos em função de uma cronologia histórica. Preferi assim agrupá-los por macro-regiões, iniciando com três estudos sobre os territórios indígenas no sul e Mato Grosso do Sul, seguindo com três textos sobre o nordeste e ao final apresentando seis trabalhos sobre a Amazônia.

Em uma primeira versão este livro foi um Dossier publicado em inglês com o título de “Fighting for lands and remaking their culture” no número 15 (2) da revista Vibrant – Virtual Brazilian Anthropology, em agosto de 2018, como uma maneira de oferecer à comunidade antropológica internacional um material atualizado sobre os indígenas do Brasil. Correspondeu a um esforço realizado no âmbito do projeto “Efeitos sociais das políticas públicas sobre os povos indígenas: Brasil, 2003-2018. Desenvolvimentismo, participação social, desconstrução de direitos, e violência”, do Laboratório de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento/ LACED, apoiado pela Fundação Ford, em propiciar uma informação qualificada sobre os indígenas do Brasil ao público estrangeiro participante do 18º. Congresso da União Internacional de Ciências Antropológicas e Etnológicas (IUAES), realizado pela primeira vez no Brasil, em 2018, no campus da Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC. Envolvendo elevados custos de tradução, o número de artigos foi drasticamente limitado.

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Mobilização e recuperação territorial entre os Tupinambá da Serra do Padeiro, sul da Bahia

Daniela Fernandes Alarcon