D. João VI - Adorador do Deus das Ciências?
A Constituição da Cultura Científica no Brasil (1808-1821)
D. João VI e os horizontes possíveis
Este livro tem por foco de atenção um período singular
em nossa história. Na história da humanidade e das Américas
em particular muitas foram as colônias e os colonizadores. Mas nenhuma
foi palco de um episódio como o da vinda da Família Real portuguesa
para o Brasil, um evento provocado pelas convulsões que marcaram o contexto
europeu posteriormente à Grande Revolução Francesa e mais
particularmente a ocupação da Península Ibérica
pelas tropas napoleônicas: uma colônia incorpora em seu próprio
território toda a elite dirigente da metrópole. E uma cidade colonial,
o Rio de Janeiro, sofre radical e vertiginosa onda de transformações
para se constituir em sede de um Império.
Não é difícil imaginar como um evento desse porte impactou
sobre o espaço de experiências e o horizonte de expectativas do
Brasil e da cidade do Rio de Janeiro. Desde 1808, irrompe um verdadeiro terremoto
político-cultural, sucedendo-se em cascata uma série de Alvarás,
Decretos, Leis, Decisões, Resoluções, Cartas Régias.
De interesse central para a presente obra é a importância dessas
transformações para o desenvolvimento da cultura científica
no Brasil. A abertura dos portos não foi um evento apenas comercial,
ele se associou com novos fluxos de idéias, intercâmbios imateriais
envolvendo a obra de viajantes, pesquisadores e naturalistas de variada origem.
A Corte, sediada no Rio de Janeiro, redesenha as bases materiais e imateriais
da organização da cultura brasileira, com profundos e irreversíveis
efeitos sobre a memória nacional.
Este livro é uma obra que permite mapear e compreender as condições
de possibilidade que marcaram o início da cultura científica no
Brasil. Uma obra relevante e necessária para pensarmos a modernidade
brasileira. A compreensão e crítica da modernidade que tivemos
é elemento de base para a formulação, proposição
e implementação da modernidade que queremos. Assim podemos evitar
as algemas mentais de pensarmos que o modo hegemônico de globalização
é uma força do destino, que se impõe sobre nossas vontades
como uma necessidade. E ousarmos concebê-lo como uma resultante possibilista,
não determinista, de processos para cuja compreensão pode contribuir
a pesquisa histórica (e da história da ciência em particular).
Roberto Bartholo